sábado, 24 de setembro de 2011
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
A TESE !!! A POESIA NA POESIA DE POETAS PORTUGUESES
A minha querida amiga italiana Maria bochicchio vai defender a sua tese de Doutoramento em LITERATURAS E CULTURAS ROMÂNICAS, especialidade em LITERATURA PORTUGUESA, no dia 27 de Setembro, pelas 15 horas, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, no Anfiteatro 2.
A dissertação intitula-se “ A POESIA NA POESIA DE POETAS PORTUGUESES: José Régio, Vitorino Nemésio, Carlos Queiroz, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny.
Orientação do Prof. Doutor Arnaldo Saraiva, e será arguida pelos Profs. Doutores Maria Paula Nina Mourão, Professora Catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Carlos Alberto Mendes deSousa, Professor Associado do Istituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho. Do júri fazem parte as Profs. Doutoras Rosa Maria Martelo Fernandes Pereira, Professora Associada com Agregação e Zulmira da Conceição TrigoGomes Marques Coelho dos Santos, Professora Associada com Agregação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
A dissertação intitula-se “ A POESIA NA POESIA DE POETAS PORTUGUESES: José Régio, Vitorino Nemésio, Carlos Queiroz, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny.
Orientação do Prof. Doutor Arnaldo Saraiva, e será arguida pelos Profs. Doutores Maria Paula Nina Mourão, Professora Catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Carlos Alberto Mendes deSousa, Professor Associado do Istituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho. Do júri fazem parte as Profs. Doutoras Rosa Maria Martelo Fernandes Pereira, Professora Associada com Agregação e Zulmira da Conceição TrigoGomes Marques Coelho dos Santos, Professora Associada com Agregação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
CARLOS QUEIROZ - FERNANDO PESSOA - O POETA E OS SEUS FANTASMAS
(...) Todos os poetas são acompanhados - às vezes, mesmo tiranicamente perseguidos - por entes invisíveis que se exprimem numa linguagem desconhecida, de natureza mais musical do que idiomática. Ouvir essas falas e, numa total concentração anímica - num estado a que ouso chamar de pura inconsciência lúcida - interpretá-las, é todo o acto de criação poética.
O exemplo de Rainer Maria Rilke, escutando, no castelo de Duino, em certa manhã tempestuosa, uma voz oculta que lhe ditou, inteiro, o verso inicial das suas famosas elegias : («Quem, se eu gritasse, me ouviria dentre as hierarquias dos anjos?»), transcende esse silêncio genético - só na essência rítmico - e eleva o fenómeno a uma altitude inacessível à compreensão dos mortais. Todavia, no plano em que Arthur Rimbaud afirmava a necessidade de o homem se tornar vidente para poder ser poeta, já a análise crítica pode penetrar e, aí, - mesmo através do satanismo de quem se propusera, por esse meio, divinizar-se - descobrir uma alma inocente e ansiosa de Deus, como fez o ensaísta católico Jaques Rivière, que via no extraordinário poeta de Uma Estação no Inferno (palavras suas) « um maravilhoso introdutor no Cristianismo».
Rolland de Renéville, no seu livro de ensaios L'Expérience Poétique, diz o seguinte« Poetas e Místicos»: - «O estudo da inspiração revelou-nos que certos poetas se abandonam à corrente da sensibilidade e das paixões até ao instante em que ressoa aos seus ouvidos uma voz que parece exterior ao seu espírito, enquanto que outros, ao contrário, se esforçam por realizar, com uma atenção suspensa, a construção verbal que premeditaram. Estas opostas diligências levam-nosà obtenção duma realidade única: a Poesia. Sabemos, por outro lado, através das confidências dos místicos (continua Renéville), que o êxtase os prende, tanto no momento em que deixam agir sobre eles o que chamam a graça divina, como quando se esforçam, com voluntária meditação, por chegar à contemplação da entidade que perseguem.» Rolland de Renéville classifica de método passivo aquele que corresponde ao primeiro estado – tanto de inspiração como de êxtase místico – e de método activo o que corresponde ao segundo.
A obra poética de Fernando Pessoa e, sobretudo, as suas confidências pessoais sobre o assunto, fazem-nos crer que a sua inspiração pertencia – pela constância com que ele era acompanhado por esses entes incoercíveis a que há pouco aludi – quase exclusivamente à primeira espécie.
Mas, além dessas entidades (que nada e ninguém nos autoriza a garantir que sejam anjos ou demónios), outras, não menos abstractas e assíduas, perseguiam o seu espírito. Criadas pela imaginação necessariamente anormal, revelavam-se-lhe, talvez por isso mesmo, com mais sensível consistência, quase corpóreas, quase humanas. Não eram, somente, suas criaturas, mas seus desdobramentos anímicos, não eram somente os «eus parciais» a que Freud se referiu – comandados e passivos – mas eus parciais autónomos e criadores.
É a isto que eu chamo os fantasmas de Fernando Pessoa, num sentido diverso do que o mestre da psicanálise atribuiu à mesma palavra no seu ensaio: A criação literária e o sonho acordado». Para ele, Freud, fantasmas são as fantasias originárias de desejos insatisfeitos que os homens acalentam dissimuladas, como prolongamentos do mundo infantil dos jogos solitários; são os substitutos da realidade apetecida e nunca alcançada: são, numa palavra (que é, aliás, um sinónimo seu); os castelos em Espanha dos adultos.
Ao que eu designo por fantasmas, chamou-lhes F.P. sub-personalidades ou heterónimos cujo significado exprimiu assim:- «A obra pseudónima é do autor em sua pessoa; é de uma individualidade completa fabricada por ele, como o seriam os dizeres de qualquer personagem de qualquer drama seu.»
Fabricada por ele, disse Fernando Pessoa. Sinceramente? Fingindo?Ou fingindo que fingia?Isto foi escrito em 1928. (…)
Organização, introdução, leitura e notas de Maria Bochicchio, edição ÁTICA/ Babel, Lisboa, 2011
domingo, 18 de setembro de 2011
Fragmento do livro LILLIAS FRASER da escritora HÉLIA CORREIA
"Lillias extinguia dentro de si mesma a vigilância de que precisara para fazer o caminho até ali. E aquela fraqueza que a tomava, em vez de a assustar, trazia o embalo da sua infância ao colo de Margaret. «Que nome tem vossemecê?»
- Blimunda - disse a mulher. - Blimunda Sete-Luas.
- É um bonito nome - disse Lillias. Quis pegar-lhe na mão, porém Blimunda já não estava a seu lado. O próprio fogo se tornava invisível, devagar.
Lillias sentiu os olhos de Blimunda e acordou. Ela sorria-lhe outra vez. «A criança está bem. De hoje em diante, eu tomo conta de vocês as duas.»
- Que criança, senhora? - disse Lillias.
- A que tu, Lillias Fraser, vais parir.
- Como pode sabê-lo?
- Vejo dentro do corpo das pessoas quando estou em jejum - explicou Blimunda.
- Eu vejo a morte - disse Lillias.
Blimunda Sete- Luas inclinou-se e tocou-lhe com os dedos na camisa. «Então sou mais feliz que do que tu és. De hoje em diante só verei este menino.»
in LILLIAS FRASER, RELÓGIO D'ÁGUA, Lisboa, 2001
- Blimunda - disse a mulher. - Blimunda Sete-Luas.
- É um bonito nome - disse Lillias. Quis pegar-lhe na mão, porém Blimunda já não estava a seu lado. O próprio fogo se tornava invisível, devagar.
Lillias sentiu os olhos de Blimunda e acordou. Ela sorria-lhe outra vez. «A criança está bem. De hoje em diante, eu tomo conta de vocês as duas.»
- Que criança, senhora? - disse Lillias.
- A que tu, Lillias Fraser, vais parir.
- Como pode sabê-lo?
- Vejo dentro do corpo das pessoas quando estou em jejum - explicou Blimunda.
- Eu vejo a morte - disse Lillias.
Blimunda Sete- Luas inclinou-se e tocou-lhe com os dedos na camisa. «Então sou mais feliz que do que tu és. De hoje em diante só verei este menino.»
in LILLIAS FRASER, RELÓGIO D'ÁGUA, Lisboa, 2001
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
HÉLIA CORREIA - frase lapidar do livro LILLIAS FRASER
As ideias, para um homem, eram como o amor para as mulheres: desordenavam as prioridades e resultavam sempre no desastre.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
LAMENTAÇÃO DE ADRIANO SOBRE A MORTE DE ANTINOO
Não escreverei mais o meu nome em letras gregas sobre a cera das tabuinhas
Porque estás morto
E contigo morreu o meu projecto de viver a condição divina
Sophia de Mello Breyner Andresen
Porque estás morto
E contigo morreu o meu projecto de viver a condição divina
Sophia de Mello Breyner Andresen
Poema de SOPHIA DE MELLO BRYNER ANDRESEN
ROSTO
Onde os outros puseram a mentira
Ficou o testemunho do teu rosto
Puro e verdadeiro como a morte
Ficou o teu rosto que ninguém conhece
O teu desejo sempre anoitecido
Ficou o ritmo exacto da má sorte
E o jardim proibido.
Onde os outros puseram a mentira
Ficou o testemunho do teu rosto
Puro e verdadeiro como a morte
Ficou o teu rosto que ninguém conhece
O teu desejo sempre anoitecido
Ficou o ritmo exacto da má sorte
E o jardim proibido.
Poema de João Borges
A LUZ DA MORTE
Um rapaz cantava a morte
e a sua voz exalava doçura
Pedi-lhe que cessasse
o canto triste, o suicídio.
Respondeu-me"Eu canto a vida"
Esperei, então, o momento
em que a treva venceria
ou o choro me salvasse.
AS SOMBRAS DE UM CORPO SÓ, Lisboa, 2011
Um rapaz cantava a morte
e a sua voz exalava doçura
Pedi-lhe que cessasse
o canto triste, o suicídio.
Respondeu-me"Eu canto a vida"
Esperei, então, o momento
em que a treva venceria
ou o choro me salvasse.
AS SOMBRAS DE UM CORPO SÓ, Lisboa, 2011
sábado, 10 de setembro de 2011
Poema de AMADEU BAPTISTA
PAINEL PARA ROSALIA DE CASTRO
É um frio tremendo.
A água gela nas torneiras, a solidão
cresce com uma unha, uma sombra
atrai todas as camisas de silêncio, arde, é uma noite
encerrando os perigos da perdição, os ferros agudíssimos
do silêncio.
É um frio tremendo.
Perde-se o caminho de casa, a luz extingue-se,
pergunta-se pelo sangue e o sangue não responde, o sangue
perde-se aos borbotões na vida, não há caminho, não há
regresso, a sereia canta
no denso nevoeiro, mas não há esperança, a tempestade
é o único lugar, o único lençol, a voz velocíssima
entregando-nos sem rendição, entregando-nos.
Como uma agulha fecha-nos os lábios, ata-nos
as mãos, como uma agulha de silêncio, feroz, terrível,
cose-nos
contra as paredes e os olhos saltam, saltam, é um frio tremendo
onde tudo arde,
arde antiquíssimo, flecha no coração, solidão
descendo o braço, descendo devagar, espraiando-se
na terrível superfície do silêncio.
Rosalírica Homenaxe de 27 poetas portugueses a Rosalía
É um frio tremendo.
A água gela nas torneiras, a solidão
cresce com uma unha, uma sombra
atrai todas as camisas de silêncio, arde, é uma noite
encerrando os perigos da perdição, os ferros agudíssimos
do silêncio.
É um frio tremendo.
Perde-se o caminho de casa, a luz extingue-se,
pergunta-se pelo sangue e o sangue não responde, o sangue
perde-se aos borbotões na vida, não há caminho, não há
regresso, a sereia canta
no denso nevoeiro, mas não há esperança, a tempestade
é o único lugar, o único lençol, a voz velocíssima
entregando-nos sem rendição, entregando-nos.
Como uma agulha fecha-nos os lábios, ata-nos
as mãos, como uma agulha de silêncio, feroz, terrível,
cose-nos
contra as paredes e os olhos saltam, saltam, é um frio tremendo
onde tudo arde,
arde antiquíssimo, flecha no coração, solidão
descendo o braço, descendo devagar, espraiando-se
na terrível superfície do silêncio.
Rosalírica Homenaxe de 27 poetas portugueses a Rosalía
Poema de João Borges
AO DOBRAR A PÁGINA
Palavras de granito
marcaram a cidade
Repete-se tudo.
Por mais calor que faça
tenho frio. Um rapaz
deixou no escuro
a minha pele.
Porém, sento-me, divago.
Não conto as horas,
apenas sei que já sou outro.
AS SOMBRAS DE UM CORPO SÓ, Lisboa, 2011
Palavras de granito
marcaram a cidade
Repete-se tudo.
Por mais calor que faça
tenho frio. Um rapaz
deixou no escuro
a minha pele.
Porém, sento-me, divago.
Não conto as horas,
apenas sei que já sou outro.
AS SOMBRAS DE UM CORPO SÓ, Lisboa, 2011
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Tradução de JOÃO BORGES
INTRODUÇÃO A CHRISTINA ROSSETTI
Por Katherine McGowran
Ao longo da sua vida, Christina Rossetti cultivou uma imagem de si mesma como poeta reclusa. Uma devota e pia anglicana, viveu discretamente e escreveu cerca de quinhentos poemas religiosos e várias prosas de devoção. Na memória que prefaciava a sua edição de 1904 dos poemas de Christina, o irmão William [Michael Rossetti] recordava que as reticências e reservas sociais dela eram acompanhadas de uma aversão ao ‘exibicionismo’: Na sua reputação de poeta ela nunca presumiu, nem nunca voluntariamente, aludiu às suas capacidades: num contexto de mediocridade, ela consentia em parecer tão medíocre como o mais discreto de todos. (Memória, p. LVI)1. Aparentemente introspectiva, sentimental e profundamente religiosa, Rossetti foi apresentada ao longo da maior parte do século XX como uma escritora cujos poemas lidavam principalmente com emoções privadas, e que se afastou da publicidade e da fama. No entanto, esta suposta modesta poeta, que publicou o seu primeiro trabalho com dezassete anos de idade, foi o primeiro dos escritores associados ao movimento Pré-Rafaelita a obter a atenção da crítica. Além de poesia e prosa de devoção, Rossetti escreveu algumas histórias infantis. A sua produção poética, que inclui poesia lírica, poemas narrativos, baladas e sonetos, mostra o alcance de uma poeta de considerável talento e ambição. Os poemas de Rossetti são raramente tão imediatos quanto as suas superfícies simples podem sugerir e o seu uso de formas literárias tradicionais é frequentemente desafiador e inovador.
Rossetti era filha de Gabriele Rossetti, poeta patriota, pedagogo e professor de Italiano; e da sua mulher de descendência italiana, Frances [Lavinia Polidori] Rossetti. O pai havia fugido de Nápoles em 1821 depois do fiasco de um motim político que pretendia conseguir uma constituição para o reino. A sua mãe, uma governanta, era irmã do Dr. John Polidori, fisiatra de Byron e autor de The Vampire (1819). Christina, nascida em 1830, foi a filha mais nova dos quatro filhos precoces dos Rossetti. Os seus irmãos, o editor e crítico William Michael Rossetti e Dante Gabriel Rossetti, o famoso poeta e pintor, foram fundadores do movimento Pré-Rafaelita. A imã Maria [Francesca], que professou na Ordem de Todos os Santos em 1873, partilhava a paixão do pai por Dante [Alighieri]2 e a crença inabalável da mãe na fé Anglicana, uma herança que Christina, apesar de exteriormente não menos pia, achou mais perturbante.
Christina foi em todos os aspectos uma criança de ‘bom-coração’ e curiosa e um pouco temperamental, dada a rompantes e birras. Tinha um ‘temperamento apaixonado’ que, durante uma discussão com a mãe, a levou a tomar um par de tesouras e esfacelar o seu próprio braço, para expressar a sua raiva (Packer, p.10). No entanto, algures durante a sua adolescência, ela sofreu um trauma emocional ou espiritual que resultou numa alteração permanente do seu carácter. Decidiu então que renunciaria a todos os passatempos prazerosos e aos divertimentos, pois sentia que se demorava demais neles. A partir daqui, passou a frequentar pouco a sociedade, com excepção do seu círculo mais íntimo de família e amigos, e aderiu estritamente aos princípios da fé Anglicana, que se tornariam uma influência dominante na sua vida e no seu trabalho. Como recorda o seu irmão William, O seu temperamento e carácter, naturalmente afectuosos e livros tornaram-se uma ‘sorte escondida’. (Memória, p. LXVIII).
Apesar das restrições auto-impostas que esta forma de vida altamente escrupulosa implicava, Christina não desistiu totalmente da sociedade. Ela pertenceu ao ‘The Portfolio Club’, um grupo de mulheres escritoras, a que também pertenciam a sufragista Barbara Bodichon e a poeta Bessie Rayner Parkes. E também foi membro não-oficial da ‘Irmandade’ Pré-Rafaelita de artistas e escritores, contribuindo com poemas para números da sua revista literária The Germ, sob o pseudónimo de ‘Ellen Alleyn’. Ela assistiu a algumas das reuniões dos Pré-Rafaelitas que decorriam na casa da família, em Charlotte Street, apesar da sua habitual reserva a impedir de participar. Durante as décadas de 1840 e 1850, Christina posou para vários pintores Pré-Rafaelitas, incluindo o irmão Dante Gabriel Rossetti e William Holman Hunt. O seu poema ‘In Na Artist’s Studio’ é muito provavelmente baseado no estúdio de Dante Gabriel. Este poema oferece uma noção perturbante entre o artista e o modelo, retractando o artista como uma espécie de vampiro, a alimentar-se do rosto da ‘rapariga sem nome’, que aparece em vários papéis em todas as suas telas. Christina tentou desenhar ela mesma durante a década de 1850, tendo aulas para jovens raparigas dadas por outro dos membros dos Pré-Rafaelitas, Ford Madox Brown, em Camden Town. Em 1854, solicitada pelos relatos de pavorosas mortas na Crimeia, ela candidatou-se sem sucesso para ser enfermeira. Já no final da década de 1850, Christina trabalhou como voluntária na Penitenciária de Highgate, uma casa estabelecida com o objectivo de salvar ‘mulheres caídas’ e treiná-las para um emprego mais ‘correcto’ no mundo exterior.
No outono de 1847, Christina aceitou um pedido de casamento de James Collinson, um pintor conhecido dela pelas suas relações com os Pré-Rafaelitas. No entanto, quando ele se converteu ao Catolicismo Romano (Ele era freq uentador da High Anglican Church onde Christina e a mãe iam.), ela rompeu o noivado, reivindicando diferenças religiosas como razão. Algures durante a década de 1860, Christina recusou outro pedido de casamento, uma vez mais por motivos religiosos. Charles Cayley, um ex-aluno do pai, era um poeta e escritor que se lançou numa tradução de Dante quando os dois se conheceram. Apesar da rejeição de Christina, ficaram amigos íntimos até à morte dele. Os seus motivos permanecem ainda obscuros, e no caso de Cayley, mais ainda porque o irmão William estava convencido do afecto de Christina pelo tímido aluno de Gabriele.
A publicação do primeiro livro de Christina, Goblin Market and Other Poems, em 1862 trouxe-lhe a atenção de muitos escritores e críticos. Recebeu boas recensões no London Review, no Litterary Gazette e no Athenaeum, que louvaram a sua vívida imaginação e a originalidade do seu versejar. Christina foi comparada favoravelmente com mulheres-poetas como Adelaide Procter e Jean Ingelow, cuja popularidade originou ocasionais acessos de inveja. Rossetti foi também aclamada como a única possível sucessora de Elizabeth Barret Browning. A comparação com Barrett Browning foi nalguns aspectos inevitável, já que o seu póstumo Last Poems (1862) surgiu no mesmo ano que Goblin Market. As tendências simbolistas de Rossetti e a sua tendência para exuberantes ambientes medievais parecem mostrá-la como indiferente a preocupações contemporâneas, e portanto oposta a uma escritora como Elizabeth Barret Browning, para quem a poesia era uma actividade pública e política. Falando da ausência de política nos seus versos, numa carta ao irmão, Rossetti explica: não está em mim, e portanto nunca sairá de mim, uma inclinação para a política e a filantropia ao lado de Mrs. Browning: tal pluralidade deixo para alguém maior do que eu (Cartas, p.31). Os poemas de Rossetti não contam com as referências explícitas aos problemas sociais contemporâneos que encontramos nos poemas de Browning, no entanto eles contêm a sua própria crítica social indirecta.
Apesar da recusa de Rossetti para ‘a política e a filantropia’, a verdade é que fez campanha vigorosa para causas sociais como o Movimento Antivivissecção e o Protection of Minors Bill, que pretendia acabar a exploração de crianças para a prostituição, através da alteração do limite mínimo de idade dos treze anos para os dezasseis. A fama trouxe petições de pessoa que pretendiam o apoio de Christina e as suas cartas desta altura denotam o seu envolvimento activo e esforços em benefício das várias causas. No entanto, quando Augusta Webster, uma poeta cujo trabalho Rossetti admirava, solicitou o seu apoio para o projecto-de-lei de 1878 para o sufrágio, Rossetti estava relutante em aceitar, respondendo em termos que revelavam o conflito entre as suas crenças religiosas (A ênfase dada na Bíblia às diferenças de género –sendo as mulheres subordinas aos homens.) e o seu reconhecimento da restritiva ‘barreira do sexo’ (Bell, p.112), que impedia o avanço e a participação das mulheres.
Em 1872, foi diagnosticada a Christina a doença de Grave, uma doença de tiróide de que ela sofreria intermitentemente para o resto da vida. Pela mesma altura, a saúde de Dante Gabriel começou a deteriorar-se. Os seus sintomas consistiam em delírios paranóicos e eram alimentados por um misto da culpa pela morte de [Elizabeth Eleanor] ‘Lizzie’ Siddal (Que havia morrido em 1862, com uma overdose de láudano.) e as acusações dos críticos que cada vez mais apontavam imoralidade e excessos de sensualidade nos poetas Pré-Rafaelitas. Ele tornara-se cada vez mais dependente do cloral e nunca realmente recuperou a sua saúde ou o seu equilíbrio mental. Morreu dez anos depois, no seguimento de um ataque cardíaco. Em 1883, morria o grande amigo e ex-pretendente de Christina, Charles Cayley, deixando instruções para que ela fosse a sua executora literária. Três anos depois, Frances Rossetti, com quem Christina vivera a vida inteira, morre também. A cominação destas três tristes perdas e da sua própria saúde precária, fizeram de Christina mais relutante ainda em envolver-se na sociedade. O seu aspecto fora consideravelmente alterado pelas crises da doença de Grave, que lhe descolorou a pele e tornou os seus olhos invulgarmente proeminentes. Ela passou a dedicar cada vez mais tempo a escrever textos de devoção, poemas e prosas, que publicava através da Society for Promoting Christian Knowledge.
A publicação do terceiro e quarto volumes de poesia, The Prince’s Progress and Other Poems (1866) e A Pageant and Other Poems (1881) ajudaram a manter a sua reputação. Em 1885, Christina recebeu um volume de poemas da poeta irlandesa Katherine Tynan, que na dedicatória escrevia com humildade e reverência para a primeira das mulheres poetas, da última e menor (Marsh, p.535). Tynan visitou Rossetti na década de 1880, mas ficou de alguma forma desconcertada por encontrar a poeta um pouco envelhecida vestida de forma algo prosaica, sendo a imagem romântica que ela havia idealizado dissipada pela saia de tweed e as botas toscas da anfitriã. As expectativas de Tynan da poeta usar vestidos de tecidos suaves e de belas cores (p.536) dão-nos uma noção dos mitos criados à volta de Rossetti. Ela parece ter sido figura tão icónica quanto inspiradora para a geração de mulheres escritoras que lhe sucede. Tynan foi só uma de muitas mulheres escritoras que se inspirou em Rossetti. Muitas das poetas da geração vindoura, como Alice Maynell, Charlotte Mew e Michael Field se devem a ela.
Em 1892, descobriu-se que Christina sofria de cancro de mama. Foi operada em Maio, mas o cancro reapareceu um ano depois. Ao serem-lhe administrados opiáceos, para as dores, ela começou a ter alucinações que preocupavam o seu irmão ateu William. No seu leito de morte, Christina expressou o seu medo de ir para o inferno, as suas crenças religiosas criaram nela mais terror do que conforto, no fim da sua vida. Foi enterrada no cemitério de Highgate, junto ao pai, à mãe e à cunhada Lizzie Siddal.
1:Esta memória prefaciou a edição de 1904 dos “Poemas Completos”, que incluía alguns poemas inéditos de Rossetti. A edição, de William Michael, contem também algumas notas úteis, que ajudam a explicar muitas das fontes da poesia de Rossetti.
2: Maria Francesca Rossetti chegou a publicar, em 1871 o ensaio The Shadow of Dante : Being an essay towards studying himself, his worl, and his pilgrimage. Além disto, traduziu ainda o diurno monástico The Day Hours and Other Offices as Used by the Sisters of All Saints, já quando vivia na Ordem de Todos os Santos.
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