A beleza tende para a esfericidade. O olhar que a recolhe quer abrangê-la toda ao mesmo tempo, porque é una, manifestação sensível da unidade, suposto da inteligência do que tão fácilmente ao ficar preso de "isto" ou "aquilo" e da sua relação, sobretudo da sua relação, se desprende. Já que isto ou aquilo considerado desinteressadamente mostra a sua unidade, não sua talvez, mas unidade ao fim e ao cabo.
E a beleza na qual depois distingue a inteligência, elementos e relações até com os seus números, oferece-se ao aparecer como unidade sensível. E a mente de quem a contempla tende a assimilar-se a ela, e o coração a bebê-la, num só hausto, como seu cálice ansiado, o seu feitiço.
Porque a beleza ao mesmo tempo que manifesta a unidade, a unidade que não pode proceder senão do uno, abre-se. Não se apresenta ao modo do ser de Parménides, ou daquele que crê que é esse ser. Abre-se como uma flor, que deixa ver o seu cálice, o seu centro iluminado que logo acaba por ser o centro que comunica com o abismo. O abismo que se abre na flor, nessa única flor que se ergue no prado, que se ergue mal acaba de abrir inteiramente. Logo que aberta, como distância que convida a ser olhada, a que se debrucem sobre o seu cálice violáceo, por vezes branco. E quem se debruça sobre cálice desta flor una, a única flor, arrisca-se a ser raptado. Risco que se cumpre na Perséfone dos sacros mistérios. A rapariga, a inocente que olha o cálice da flor que mal se ergue, junto ao abismo e que é o seu chamamento, a sua abertura. E não seria necessário - dizendo-o com perdão do sagrado mito de Elêusis - que aparecesse o carro do deus dos ínferos. O único abismo que no centro da beleza, unidade que procede do uno, se abre, bastaria para se abismar. E assim a esperança diz: até que o abismo do uno se erga todo; até que Deméter Alma não volte a ter que se pôr de luto.
Sem comentários:
Enviar um comentário