As fotos são de Vasco Nabais
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
A PROPÓSITO DE UMA QUINTA DE LEITURA COM O POETA CONVIDADO JOSÉ LUÍS PEIXOTO
Algumas figuras da nossa cultura : Isabel Lhano, Graça Martins e José Luís Peixoto, depois José Luís Peixoto e João Borges. Na última foto - valter hugo mãe, Graça Martins e Rosa Alice Branco.
As fotos são de Vasco Nabais

As fotos são de Vasco Nabais
sábado, 26 de setembro de 2009
JOSÉ LUÍS PEIXOTO
o tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,
que eu amava quando imaginava que amava. era a tua
a tua voz que dizia as palavras da vida. era o teu rosto.
era a tua pele. antes de te conhecer, existias nas árvores
e nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde.
muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade.
o tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
eram os teus olhos, labirintos de água, terra, fogo, ar,
que eu amava quando imaginava que amava. era a tua
a tua voz que dizia as palavras da vida. era o teu rosto.
era a tua pele. antes de te conhecer, existias nas árvores
e nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde.
muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade.
JOÃO BORGES
Ao longe está a vida. Sinto
que tenho muita idade.
Estou cansado e desiludido.
É como se já tivesse feito o percurso.
Dentro de mim, alastra
a tristeza e a vontade de não estar.
O Largo de S.Domingos é caótico,
os carros quase se atropelam,
as pessoas, velhas, feias, mal vestidas
e quando falam parecem alucinadas;
grupos de jovens,
não têm a noção de que mundo é este
e entregam-se
ao paraíso ficcionado para eles.
Em mim, a solidão de um amor
que se desfaz e se repete.
Tudo é sombrio.Há o silêncio que
equivale à morte
e o meu cadáver esquecido no deserto.
No entanto, o coração insiste em bater,
os pulmões respiram e acabo por viver mais
um dia e outro.
Brilho no Escuro, nº2, Setembro, 2009
Ao longe está a vida. Sinto
que tenho muita idade.
Estou cansado e desiludido.
É como se já tivesse feito o percurso.
Dentro de mim, alastra
a tristeza e a vontade de não estar.
O Largo de S.Domingos é caótico,
os carros quase se atropelam,
as pessoas, velhas, feias, mal vestidas
e quando falam parecem alucinadas;
grupos de jovens,
não têm a noção de que mundo é este
e entregam-se
ao paraíso ficcionado para eles.
Em mim, a solidão de um amor
que se desfaz e se repete.
Tudo é sombrio.Há o silêncio que
equivale à morte
e o meu cadáver esquecido no deserto.
No entanto, o coração insiste em bater,
os pulmões respiram e acabo por viver mais
um dia e outro.
Brilho no Escuro, nº2, Setembro, 2009
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
terça-feira, 22 de setembro de 2009
REVISTA DE POESIA BRILHO NO ESCURO - FOI NO SÁBADO -19 DE SETEMBRO- LANÇAMENTO DO NÚMERO DE OUTONO - PORTO
ACONTECEU NO PORTO - LANÇAMENTO DA REVISTA DE POESIA BRILHO NO ESCURO - PALACETE DOS VISCONDES DE BALSEMÃO
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
terça-feira, 15 de setembro de 2009
domingo, 13 de setembro de 2009
RENTRÉE NO PORTO
ENTRADA LIVRE
SÁBADO - 19 DE SETEMBRO - PORTO
pelas 21.30h. Palacete dos Viscondes de Balsemão
Praça de Carlos Alberto
LANÇAMENTO DO 2ºnúmero da revista de Poesia
BRILHO NO ESCURO
Tiragem de apenas 150 exemplares
Colaboração dos poetas:
ISABEL DE SÁ
JOÃO BORGES
JORGE MELÍCIAS
PAULO DA COSTA DOMINGOS
ROSA ALICE BRANCO
Colaboração da livraria de poesia e teatro
POETRIA
SÁBADO - 19 DE SETEMBRO - PORTO
pelas 21.30h. Palacete dos Viscondes de Balsemão
Praça de Carlos Alberto
LANÇAMENTO DO 2ºnúmero da revista de Poesia
BRILHO NO ESCURO
Tiragem de apenas 150 exemplares
Colaboração dos poetas:
ISABEL DE SÁ
JOÃO BORGES
JORGE MELÍCIAS
PAULO DA COSTA DOMINGOS
ROSA ALICE BRANCO
Colaboração da livraria de poesia e teatro
POETRIA
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Paulo da Costa Domingos
Fragmento de NARRATIVA
frenesi, Lisboa, 2009
(...)
À escala da Via Láctea, mais nos vale ficar quietos. Ouvir com atenção uma sonata de Schubert (D821), sentida por Rostropovich e Britten: ou voltar a Elizabeth Wallfisch/Richard Boothby/Robert Woolley (LA Folia). Não mais poderei dizer, como Baudelaire, referindo-se à sua meninice, «eu era tão alto como um in-fólio», nem como Cervantes, que «passo as noites em claro e os dias na escuridão». De idêntico modo é-me impossível garantir-vos que, para melhor, deviéis tudo abandonar, num quietismo necessariamente comprometido com as forças trabalhadeiras da morte. Entendo que vos seja possível sentir já o cansaço de uma pertinência de que, porventura, não partilhais; e que nada tereis colhido, pois, na leitura. »De facto, o que escrevi não contém, em particular, nenhuma pretensão a novidade», até Wittgenstein o disse em Viena; mas permiti-me - filhos, netos, bisnetos da guerra civil intermitente, enfants perdus a quem Shakespeare exortaria: Ah, como a vida é breve; se vivemos, vivemos para derruir o que nos oprime»-,(...)
Fragmento de NARRATIVA
frenesi, Lisboa, 2009
(...)
À escala da Via Láctea, mais nos vale ficar quietos. Ouvir com atenção uma sonata de Schubert (D821), sentida por Rostropovich e Britten: ou voltar a Elizabeth Wallfisch/Richard Boothby/Robert Woolley (LA Folia). Não mais poderei dizer, como Baudelaire, referindo-se à sua meninice, «eu era tão alto como um in-fólio», nem como Cervantes, que «passo as noites em claro e os dias na escuridão». De idêntico modo é-me impossível garantir-vos que, para melhor, deviéis tudo abandonar, num quietismo necessariamente comprometido com as forças trabalhadeiras da morte. Entendo que vos seja possível sentir já o cansaço de uma pertinência de que, porventura, não partilhais; e que nada tereis colhido, pois, na leitura. »De facto, o que escrevi não contém, em particular, nenhuma pretensão a novidade», até Wittgenstein o disse em Viena; mas permiti-me - filhos, netos, bisnetos da guerra civil intermitente, enfants perdus a quem Shakespeare exortaria: Ah, como a vida é breve; se vivemos, vivemos para derruir o que nos oprime»-,(...)
terça-feira, 8 de setembro de 2009
POEMA DE ISABEL DE SÁ
SERÁ NO PRÓXIMO SÉCULO?
O nosso amor arrasou cidades. Éramos
muito jovens e pensávamos assim.
O mundo pertencia-nos. Ninguém
percebia mas nós vivíamos contra
tudo - era um acto político
Assim alguns seres no mundo
construíram vidas, amaram
e sofreram isolados, por vezes
espoliados, queimados na fogueira.
Mas o nosso amor resistirá
às fronteiras, aos muros de fogo
e à injustiça. Gostaríamos de viver
o tempo da verdadeira transformação,
da felicidade universal.
O nosso amor arrasou cidades. Éramos
muito jovens e pensávamos assim.
O mundo pertencia-nos. Ninguém
percebia mas nós vivíamos contra
tudo - era um acto político
Assim alguns seres no mundo
construíram vidas, amaram
e sofreram isolados, por vezes
espoliados, queimados na fogueira.
Mas o nosso amor resistirá
às fronteiras, aos muros de fogo
e à injustiça. Gostaríamos de viver
o tempo da verdadeira transformação,
da felicidade universal.
domingo, 30 de agosto de 2009
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
5 POEMAS de
ISABEL DE SÁ
DANCEI CONTIGO
Dancei contigo ao som
de uma canção sentimental
da minha adolescência. No teu pescoço
o perfume, sobre a mesa o desenho
por pintar, a luz do candeeiro,
a caixa de aguarelas Rembrandt.
Releio os poemas
do que nasceu em quarenta e cinco
e, na cassete, a canção chega ao fim.
Dancei contigo beijando-te
o pescoço, a pele bronzeada
do sol deste Verão.
Só o lume dos teus beijos rompe
a treva onde a solidão nos mata.
Enrolamos a vida no escuro,
na semente de um amor atribulado.
Conhecemos o ritmo e a sede,
a convulsão do desamparo.
No sentido do corpo, no acerto
desce a força pelos braços
na violenta festa do prazer.
Tudo o que disseste
no desaforo da paixão
só podia incendiar a vida inteira
e encher de esperança o universo.
REALIDADE
Por causa de um livro
vieste ao meu encontro.
Era Verão, não sabias de nada
nem isso interessava. Palavras
amavam-se fora de ti,
no atropelo das emoções.
Lá chegaria a primeira vez,
o encontro apressado num lugar
público. Desfeito o erro
ao toque da pele, não sei
se havia medo, a paixão queria-me
no lugar exacto do teu coração.
Palavras enrolaram-se na sombra
da vida a dor do sentimento.
Atingido o espírito, o tempo
da infãncia, a realidade. Em ti
a solidão que o prazer
não mata. Quero a beleza
dos versos revelada.
Alguns anos passaram sobre
a nossa história que não acabou.
A tarde envelhece e escrevo isto
sem saber porquê.
ISABEL DE SÁ
Lembrar-te, é amar os corpos que partilhamos. O que me atrai em ti pertence à sabedoria do texto, à primeira palavra murmurada. O que me atrai no amor é a indeterminação, o impulso inicial. Os rostos que amei na tua ausência foram tocados por ti através da minha pele. Ninguém pode esclarecer a sua alma à margem deste pacto. O nosso amor desfaz o trio.
É na treva que sou obrigada a reconhecer o que escrevo. Sucumbo a uma grave abstracção de pensamento donde chego a sair tocada pela invocação da palavra.
DANCEI CONTIGO
Dancei contigo ao som
de uma canção sentimental
da minha adolescência. No teu pescoço
o perfume, sobre a mesa o desenho
por pintar, a luz do candeeiro,
a caixa de aguarelas Rembrandt.
Releio os poemas
do que nasceu em quarenta e cinco
e, na cassete, a canção chega ao fim.
Dancei contigo beijando-te
o pescoço, a pele bronzeada
do sol deste Verão.
Só o lume dos teus beijos rompe
a treva onde a solidão nos mata.
Enrolamos a vida no escuro,
na semente de um amor atribulado.
Conhecemos o ritmo e a sede,
a convulsão do desamparo.
No sentido do corpo, no acerto
desce a força pelos braços
na violenta festa do prazer.
Tudo o que disseste
no desaforo da paixão
só podia incendiar a vida inteira
e encher de esperança o universo.
REALIDADE
Por causa de um livro
vieste ao meu encontro.
Era Verão, não sabias de nada
nem isso interessava. Palavras
amavam-se fora de ti,
no atropelo das emoções.
Lá chegaria a primeira vez,
o encontro apressado num lugar
público. Desfeito o erro
ao toque da pele, não sei
se havia medo, a paixão queria-me
no lugar exacto do teu coração.
Palavras enrolaram-se na sombra
da vida a dor do sentimento.
Atingido o espírito, o tempo
da infãncia, a realidade. Em ti
a solidão que o prazer
não mata. Quero a beleza
dos versos revelada.
Alguns anos passaram sobre
a nossa história que não acabou.
A tarde envelhece e escrevo isto
sem saber porquê.
CELEBRAÇÃO
Que dizer do surto de afecto unindo o que parecia desligado, não sabemos, Partilhamos a indeterminação, o lume de um instante.
Ela geme porque sente a carícia e a dureza desse caule e abre-se até onde não é mais possível. Penetro em ti o centro donde irradia o prazer, repetes o gesto, violentas o que se esconde nesta noite de Setembro, na celebração da própria vida. Os corpos exigem intimidade recíproca. Há um sentido subterrâneo neste encontro.
Repetir o Poema, colecção Finita Melancolia, Quasi Edições, Famalicão, 2005
5 poemas de
JOAQUIM MANUEL MAGALHÃES
Era como estar só. Mas
estar só e feliz.
A varanda envidraçada,
o cheiro do café, um ramo
chamado sono.
Sombras de sol batiam
no chão de madeira velha.
Restos de água da noite
brilhavam nos vidros
os primeiros insectos.
A maresia das aves costeiras
lanceoladas de luz.
Os olhos pousavam à espera
de te voltar a ver.
Estava ali por esse dia.
Diante da janela, além
nos bancos de trás. Sorriu,
o ar ergueu-se em labirintos,
a tarde pousou-lhe na tez.
A cultura tornou-se um conflito
de desalento. No fim da aula
fomos tomar café.
Diante dos outros tocava só
na sua chávena, no maço
dos cigarros, era o seu corpo
que eu queria atingir.
Não és real, eu não existo.
Raizes desertas do auriga.
De novo o perfume se sentava
sereno e moreno no lugar
ao meu lado do carro, ia
pela noite de verão até
à sua casa, crescia
para a porta por abrir.
E voltava-se e ria e pedia
um último beijo com as luzes
nos máximos para ninguém
nos ver. Os pés hesitam no
asfalto, as mãos remordem
a beira da janela.
Aí
olhava nos meus ombros
o peso do seu pior adeus.
O cabelo rasgado de carícias, o orvalho da camisa.
Peguei no vidro dos sais, no sabonete
com musgo de linho, no ígneo frasco
de champô à névoa tão tensa
da lâmpada turva. O sândalo,
o bálsamo servo com vapor de mal.
Quando danço contigo as romãs do jardim
ardem no seu sangue. Quando danço contigo
no terror do salão tu és a viagem
mais rápida do meu olhar. Pego num copo
donde te vi beber e esmago-o
como se te apertasse a mão.
Meu amigo, amigo que depois foste de nós dois,
abençoado de rosto e corpo, gardasses-me tu
na convulsão de tábuas de um abraço,
nessa prisão que na altura não entendi.
Seria agora um galardão, uma honra tão alta
na memória, não apenas uma noite,
dessas curvadas pela despedida. Desse-me Deus
de novo, meu amigo, o torreão, a desordem , os teus passos,
esses laços que podia ser eu a desatar. Nada
em toda a extensão e duração do mundo
desejava mais do que dizer-te: foste
quem naufragou em maior temor e amor
a minha, a nossa - é difícil dizer - vida.
Uma luz com um toldo vermelho, colecção forma, Editorial Presença, Lisboa, 1990
JOAQUIM MANUEL MAGALHÃES
Era como estar só. Mas
estar só e feliz.
A varanda envidraçada,
o cheiro do café, um ramo
chamado sono.
Sombras de sol batiam
no chão de madeira velha.
Restos de água da noite
brilhavam nos vidros
os primeiros insectos.
A maresia das aves costeiras
lanceoladas de luz.
Os olhos pousavam à espera
de te voltar a ver.
Estava ali por esse dia.
Diante da janela, além
nos bancos de trás. Sorriu,
o ar ergueu-se em labirintos,
a tarde pousou-lhe na tez.
A cultura tornou-se um conflito
de desalento. No fim da aula
fomos tomar café.
Diante dos outros tocava só
na sua chávena, no maço
dos cigarros, era o seu corpo
que eu queria atingir.
Não és real, eu não existo.
Raizes desertas do auriga.
De novo o perfume se sentava
sereno e moreno no lugar
ao meu lado do carro, ia
pela noite de verão até
à sua casa, crescia
para a porta por abrir.
E voltava-se e ria e pedia
um último beijo com as luzes
nos máximos para ninguém
nos ver. Os pés hesitam no
asfalto, as mãos remordem
a beira da janela.
Aí
olhava nos meus ombros
o peso do seu pior adeus.
O cabelo rasgado de carícias, o orvalho da camisa.
Peguei no vidro dos sais, no sabonete
com musgo de linho, no ígneo frasco
de champô à névoa tão tensa
da lâmpada turva. O sândalo,
o bálsamo servo com vapor de mal.
Quando danço contigo as romãs do jardim
ardem no seu sangue. Quando danço contigo
no terror do salão tu és a viagem
mais rápida do meu olhar. Pego num copo
donde te vi beber e esmago-o
como se te apertasse a mão.
Meu amigo, amigo que depois foste de nós dois,
abençoado de rosto e corpo, gardasses-me tu
na convulsão de tábuas de um abraço,
nessa prisão que na altura não entendi.
Seria agora um galardão, uma honra tão alta
na memória, não apenas uma noite,
dessas curvadas pela despedida. Desse-me Deus
de novo, meu amigo, o torreão, a desordem , os teus passos,
esses laços que podia ser eu a desatar. Nada
em toda a extensão e duração do mundo
desejava mais do que dizer-te: foste
quem naufragou em maior temor e amor
a minha, a nossa - é difícil dizer - vida.
Uma luz com um toldo vermelho, colecção forma, Editorial Presença, Lisboa, 1990
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Criei um blogue dedicado ao meu trabalho plástico, gráfico e fotográfico.
GRAÇA MARTINS A FIGURA E O SEU DUPLO
http://afiguraeoseuduplo.blogspot.com
Espero pela vossa visita
GRAÇA MARTINS A FIGURA E O SEU DUPLO
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