domingo, 8 de fevereiro de 2009


valter hugo mãe

a vida sexual do bruno

começou aos treze anos
com uma mulher mais velha que
lhe disse gostar de levar à boca
pequenas conchas e certos
frutos secos. o bruno serviu-lhe
de delicado amor com discrição
ansiando embora que ela o
tratasse com importância e o
quisesse para sempre. o coração
do bruno divide-se entre estes dois
extremos, como uma noz, o da facilidade
perante a sedução, e o da angústia infinita por
perder a cada minuto a candura
redentora do desconhecimento. a casca
do coração é dura, o
interior tão intrincado

com o tempo, o bruno
desenvolveu um néctar viciador
que, às bocas ávidas, inventava
territórios de sonho para onde a
consciência se matava. com tal
truque, ele metamorfoseou-se em
terminador de ofícios como o da
poesia, do ensino da música ou
da colheita de amostras marinhas
do céu. matando sem piedade
as mulheres obstinadas pelo seu néctar,
o bruno viu a terra esvaziar-se e o
diálogo escassear, mesmo sobre o
sexo ou a saudade de se ser amado
sem artifícios
em seu redor, ele agigantado, as
coisas pareciam mingar e pedir-lhe
auxílio. mas da sua natureza não faz
parte voltar atrás, por isso, vive
preparado à porta das casas
para impressionar quem, cedo pela
manhã, sai à rua em busca ainda do
amor

eu regozijo. deixei
de escrever poesia para melhor ver
o lado não metafísico do céu. e posso
entrar no mar em busca de todas as
coisas impossíveis, porque sei que
não as vou encontrar. à noite, sonhamos
os dois com o mesmo, uma
ladeira íngreme onde fiquemos seguros
de cair pelas flores fincando o pé
às milhares, e as raparigas em toda a volta
pedem-nos em casamento e nós aceitamos
tendo mil filhos e amando cada uma
profundamente felizes, à beira
de inventarmos infinitamente o melhor do mundo

folclore íntimo, COSMORAMA Edições

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009











Foto de David Hamilton
Dormirás sobre meu ventre
aí depondo teus receios.

Surgirás, em tal beleza, que não mais haverá distinções.
Serás ele. Ela

Isabel de Sá, Repetir o Poema, Quasi Edições, 2005










FOTOS DE DAVID HAMILTON














Poema de ISABEL DE SÁ

Sílvia, chamas-me tão confusamente que me suspendo no sono das palavras.
Dizes amar o que há de duplo em mim, outras facetas,
demorados abraços, um ombro marcado na palidez.
Encosto-me a fitar-te e lenta a voz me apanha
única, pasmada no reconhecimento da linha, a boca escura, clarão, sorriso.
Distancias-me? Não sei que te farei no meu silêncio.
Talvez repartir música em teus lábios, talvez amar-te.
Deixa tombar a nuca, recorda as águas da comporta.

Repetir o Poema, Quasi edições, 2005

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009



Oh Romeo
JOVEM POESIA ESPANHOLA

JOSÉ LUIS PIQUERO


ROMEU NO INTERNATO

Amava a inocência dele, o seu cálido contacto
casual durante o jogo,
o sorriso radiante que também cativara
desde o primeiro instante o Superior.
Os rapazes mais rudes ofereciam-lhe doces
e todos o escolhíamos para formar equipas.

Eu amava como um louco a preguiça dele nas tardes
de calor quando, meio adormecido,
a postura indolente, parecia perder-se
no quintal, tão longe detrás da janela enorme,
e o professor de Ciências era um adorno inútil.
Amava-o se a camisola lhe caía
da cintura quase aos tornozelos
ou se declarava muito sério detestar a sopa
ou não percebia uma piada das frescas.

Amava sobretudo a sua falta de defesa, as lágrimas
que tanto embelezaram o seu rosto certa vez
que se aleijou numa perna no recreio, e levá-lo
apoiado ao meu ombro para arranjar uma ligadura.

E no instante glorioso em que lhe deram
- pela sua cara bonita - o papel de Julieta
e pude por fim dizer-lhe quanto o amava, o amava
em voz alta, olhando-o nos olhos,
diante de todo o colégio, diante dos meus pais.

domingo, 1 de fevereiro de 2009












Fotografia de Graça Martins
Ele levou-me uma destas tardes para a inquietação. Deitou a face sobre a minha perna. Disse
Amar-te ao menos uma vez, deixar em ti algumas pétalas. Um cheiro.
No meu corpo de homem consenti. De canto a canto dos lençóis fui arrancando borboletas, farrapos, aneis.

Isabel de Sá, Repetir o Poema, Quasi Edições, 2005

Fragmento de FENDA ABERTA de

F. SCOTT FITZGERALD

(...) Mal se olha o Mediterrâneo ficamos logo a perceber por que é que o homem se pôs ali de pé, pela primeira vez, e estendeu ao sol os seus braços. É um mar azul; ou antes, mais azul será por causa da estafada frase que descreve todo o charco, desde o Pólo Norte ao Sul. É o azul feérico dos quadros de Maxfield Parrish; o azul dos livros azuis, da essência azul, de olhos azuis, e a sombra das montanhas é uma faixa de terra verde que contorna cinquenta quilómetros a costa e faz o campo de golfe do mundo. A Riviera! O nome das suas estações, Cannes, Nice, Monte Carlo, evocam a memória de uma centena de reis e príncipes sem trono que ali foram morrer, de rajás e beis misteriosos a atirar diamantes azuis a dançarinas inglesas, milionários russos a dilapidar fortunas na roleta nesses dias de caviar já perdidos, de antes da guerra. Desde Charles Dickens a Catarina de Médicis, desde Eduardo Príncipe de Gales no auge da popularidade a Oscar Wilde no mais fundo da desgraça, toda a gente veio esquecer aqui ou celebrar, esconder-se ou libertar-se, construir palácios brancos sobre saques da opressão ou escrever livros que às vezes minam esses mesmos palácios. (...)

MAXFIELD PARRISH



Sleeping Beauty de Maxfield Parrish


Cinderella de Maxfield Parrish


MAXFIELD PARRISH







sábado, 31 de janeiro de 2009

F.SCOTT FITZGERALD

(....)
A FENDA ABERTA


Fevereiro de 1936

Claro está que a vida é, toda ela, um acto de demolição, mas o estrago que os lados dramáticos do trabalho fazem - os grandes e súbitos impulsos que chegam, ou parecem chegar, de fora - os que ficam de memória e achamos responsáveis pelas coisas e em momentos de fraqueza contamos aos amigos, não produzem logo de seguida efeito. E estragos há de outra espécie, chegados de dentro - que apenas sentimos tarde de mais para terem remédio, seja ele qual for, e só notamos em definitivo quando já deixámos de ser, de certo modo, o que éramos. A primeira destas rupturas, digamos assim, parece rápida - mas a segunda vai-se dando quase sem ser notada para tomarmos depois e repentinamente, consciência dela.

(....)
A Fenda Aberta, Hiena Editora, Trad.Anibal Fernandes, Lisboa, 1986

O Estranho Caso de Benjamin Button








“Eu nasci sob circunstâncias pouco usuais". É assim que começa "O Estranho Caso de Benjamin Button", adaptado a partir da história de F. Scott Fitzgerald, sobre um homem que nasce com oitenta anos e regride na sua idade: um homem, como qualquer um de nós, que é incapaz de parar o tempo. O filme conta a história de Benjamin e da sua "viagem" fora do comum, das pessoas e lugares que descobre ao longo do seu caminho, dos seus amores, das alegrias da vida e da tristeza da morte, e daquilo que dura para além do tempo."
FILME - O Estranho Caso de Benjamin Button
Realizador: David Fincher
Argumento: Eric Roth /Scott Fitzgerald
Com: Brad Pitt, Cate Blanchett, Tilda Swinton, Taraji P. Henson, Jason Flemyng, Julia Ormond
Drama, Fantasia, Romance 2008
What if I told you that instead of gettin’ older, I was gettin’ younger than everybody else?
Benjamin Button
David Fincher já nos habituou a um tipo de cinema memorável, com características próprias e pernas para andar durante muitos anos sem perder a consistência e a magia, como Seven (1995) ou Zodiac (2007). Mas nenhum dos seus filmes se pode comparar a esta história fantástica e bizarra de um homem que vê a vida e o tempo passar ao contrário, argumento escrito por Eri Roth. Baseado num conto de F. Scott Fitzgerald, datado de 1921, O Estranho Caso de Benjamin Button segue a vida de um homem, Benjamin, que nasce velho e começa a rejuvenescer à medida que cresce, ao contrário de todas as outras pessoas. Em 1918, abandonado à nascença pelo pai, é encontrado por uma mulher que o recebe de braços abertos no seio de um lar de terceira idade. Benjamin atravessa uma infância difícil para um homem de cerca de oitenta anos: cresce junto a pessoas idosas, aparentemente iguais a si próprio, e apaixona-se por Daisy, a única criança que é capaz de o ver para além da velhice aparente. À medida que vai crescendo, Benjamin conhece pessoas e perde outras, começa a ficar mais novo e a trabalhar no alto-mar. Passa pela Rússia, onde conhece Elizabeth, o seu primeiro amor, e regressa mais tarde a Nova Orleães para reencontrar Daisy, já uma mulher e bailarina profissional. Acabam por se encontrar a meio, quando têm aparentemente a mesma idade, e vivem um romance que poderia durar para sempre, não fossem as leis da natureza e o estranho caso de Benjamin. Acompanhamos esta história a partir de um diário de Benjamin que Caroline, filha de Daisy, lê à mãe já no século XXI, no dia em que o furacão Katrina destrói Nova Orleães; e da narração do próprio personagem ao longo de todo o filme.
Benjamin Button atravessa a Segunda Guerra Mundial, a ascensão dos Beatles, o início da vida cosmopolita de Nova Iorque, cada vez mais novo mas também mais experiente. Conhece a vida ao contrário, começando por experimentar a velhice a acabando a experimentar ser criança. Brad Pitt interpreta este homem diferente que tem de enfrentar uma vida invulgar, surpreendente enquanto idoso, e encantador e inocente enquanto jovem. Partilha o ecrã com Cate Blanchett no papel de Daisy, numa interpretação segura e profunda. Juntos, protagonizam os momentos mais belos do filme, encontrando uma química que não tinha sido conseguida em Babel (2006). Vivem um amor possível durante aqueles escassos anos em que têm a mesma idade, mas impossível a partir do momento em que ela começa a envelhecer muito e ele a rejuvenescer muito. Por isso, queriam recordar-se um do outro como estavam naquele momento exacto, que talvez tenha sido a única coisa que durou para sempre, através da sua filha Caroline.
A melhor sequência do filme é encontrada na narração de Benjamin do acidente de Daisy, que acabou com a sua carreira de bailarina. Fincher foi buscar uma cadeia de acontecimentos que levaram à ocorrência daquele acidente, na qual se um desses factos se tivesse processado de forma diferente, talvez Daisy não tivesse sido atropelada. De forma genial, entramos na dinâmica do filme e somos absorvidos pelas cores quentes que transmitem a antiguidade da história e pelas belas e tranquilas paisagens que caracterizam as épocas retratadas. De realçar ainda a fantástica caracterização, tanto de Pitt como de Blanchett, que lhes permitiu viver as personagens nas diversas fases das suas vidas e interpretá-las com mais credibilidade; a banda sonora composta por Alexandre Desplat, amena e luminosa, que acompanha todo o filme; e alguns momentos mais leves e alegres, que dão equilíbrio ao drama retratado.
Foi a primeira vez que senti lágrimas prestes a caírem dos meus olhos, a ver um filme, no cinema, numa sala cheia de gente petrificada com o que acabara de ver. Não pela beleza da história ou do filme em si; antes pelo peso afectivo que tem sobre Benjamin e nós próprios, espectadores. A dor de ver partir todas as pessoas à sua volta, de sentir que está a tornar-se numa criança saudável à medida que todos os que ama começam a desaparecer. A dor de abandonar Daisy apenas porque não pode dar uma melhor vida à sua filha, porque não pode envelhecer com ela e morrer com ela; porque acabará por morrer como uma criança e ela merece mais do que isso. A dor de, numa primeira fase, nascer e crescer como uma pessoa idosa e amar Daisy como criança; e, numa segunda fase, morrer como um bebé nos braços de uma Daisy já idosa, não se recordando de toda uma vida que passara e deixara para trás, a não ser quando a olha nos olhos uma última vez.
Cada pessoa verá esta história com olhos diferentes, e sentirá de forma diferente o que ela transmite, pois o que verdadeiramente importa é o que se sente durante a visualização do filme. Mas é do senso comum a sua essência mágica, a profundidade que atinge, a emoção que transmite a cada frame, a cada momento. Não pode ser contado; tem de ser visto para ser acreditado. E a verdade é que acreditamos em tudo o que vemos. Encontramos uma nova forma de encarar a vida e a morte, o envelhecimento e o passar do tempo, como se, em vez de andarem para a frente, os ponteiros do relógio seguissem na direcção contrária. Mas parar, não se consegue parar o tempo.
Durante quase três horas, atravessamos cerca de oitenta anos da vida invulgar de Benjamin Button, praticamente sem darmos por isso, sem querermos que a experiência acabe, tentando ao máximo prolongar aquele momento. É um épico fantasista sobre o amor, a vida e a morte, o destino, os milagres, a diferença, a experiência, a dor, mas consegue ser também uma história real que nos toca bem no fundo. As expectativas eram elevadas, mas este O Estranho Caso de Benjamin Button conseguiu superá-las. É uma obra extraordinária – não só pelo argumento único como pela realização inteligente e serena de Fincher – que ficará para a história e se tornará, sem dúvida, num clássico do cinema. É intenso, mágico, brilhante, perfeito, único, em todos os aspectos. Não resta nada para dizer, senão que há coisas que duram para sempre, e este filme é uma delas.
O melhor: A magia e originalidade da história, a perfeição da sequência narrativa e um Brad Pitt versátil.
O pior: Ter apenas três horas de duração… As diferentes etapas da vida de Benjamin foram perfeitamente colocadas na linha temporal do filme, mas se ocupassem mais tempo, a experiência seria mais longa…
As frases:- We’re meant to lose the people we love. How else would we know how important they are to us?- You never know what’s comin’ for ya.- Our lives are defined by opportunities, even the ones we miss.- I hope you live a life you’re proud of. If you find that you’re not, I hope you have the strength to start all over again.- I was thinking how nothing lasts, and what a shame that is.
Análise ao filme- Raquel Silva

Poesia Espanhola Contemporânea

Dois poemas de VÍCTOR BOTAS


Inclino-me diante dessa página que nunca
escreverei. É tão difícil isso
de transformar em símbolos as coisas,
em magia os momentos, em som
aquele corpo que pude ter amado
e que não amei. Nas noites de insónia,
uma pergunta talvez sem possível
resposta me atormenta: o que digo
de que há-de servir-me? Tu não me escutas.
Encontro inesperado

É possível que não tenhas dado conta. Mas
ontem, por um instante, estive quase
a embebedar-me por te ver. (Que espécie
de álcool haverá nos teus olhos
pergunto-me, procurando
recordar a hora, aquela mesa,
com um par de cafés, e a magra
longitude das tuas mãos). Não, não tenhas medo,
que não te farei a corte: não poderia
correr tanto
risco:
como tantas
vezes consegui demonstrar,
sou muito cobarde, amiga.

Trad. de Joaquim Manuel Magalhães, Relógio D'Água, Lisboa, 1997
António Botto

Adolescente

Não. Beijemo-nos, apenas,
Nesta agonia da tarde.
Guarda para outro momento,
Teu viril corpo trigueiro.



Poesia Grega Contemporânea

Poema de Yorgos Seferis

Não foi outro o nosso amor
fugia tornava a voltar e trazia-nos
uma pálpebra descida muito longínqua
um sorriso marmóreo, perdido
dentro da erva matutina
uma concha bizarra explicá-la
procurava insistentemente nossa alma.

O nosso amor foi outro tenteava
quietamente entre coisas em redor de nós
para explicar porque não queremos morrer
com tanta paixão.

E se nos agarrámos a quadris e se abraçamos
outras nucas com toda a nossa força
e se unimos o nosso hálito com o hálito
dessa pessoa
e se fechámos os nossos olhos, não foi outro
apenas este anseio mais profundo de nos agarrarmos
dentro da fuga.

Trad. de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratisinis, Relógio D'Água, Lisboa, 1993

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Talvez, por fim, no vidro
daquele café eu pudesse
perceber o que queria ao certo
dizer Kant com aquilo
do “sublime”. Mas não tive tempo.


Manuel de Freitas, in Boa Morte

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Ruy Belo aos 35

Projectos?
Deixar de dormir sem tranquilizantes e barbitúricos. Já lá vão
quase dez anos. Não sei se voltarei a dormir. É tão bom dormir.
A paz dos mortos. Sabe? Assim, sou um sobrevivente. Morri aí
pelos trinta e dois ou trinta e três. Como Cesário ou Nobre. Mas
tendo falhado.

Tem medo da morte?
Tive. Mas isso na poesia. Libertei-me. Hoje tenho medo da vida.
Desta.
DESENHOS DE RUI EFFES




Sessão de poesia organizada pela livraria Poetria - Porto
A poesia grega (antiga e moderna)

5ª feira, dia 29/1, pelas 21,30, no Café Progresso

"Não aspires, minha alma, à vida eterna:
Mas vai esgotando o campo do possível" - Píndaro, in Píticas III


Leitura de poemas : Cláudia Novais, André Sebastião, Rui Pena
João Borges e Olga Oliveira

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Poema de valter hugo mãe

coisas por acontecer, dois

vou morrer no dia dezoito de março de
mil novecentos e noventa e seis com
apenas vinte e quatro anos. pouco me
importa chegar a velho ou cumprir os
sonhos, porque já não saberei sonhar e
estarei morto a partir desse dia

tombarei o corpo para um largo
túmulo, onde poderá afeiçoar-se à morte
lentamente, concebendo algum
movimento, mas onde encontrará um
silêncio agreste ante todas as
tentativas de expressão,
e onde quem se abeire
o faça com a ilusão mesma dos
contactos entre dimensões, fugazes,
assustadores, mórbidos

no dia dezoito de março de mil novecentos e
noventa e seis as coisas mais pequenas
da terra serão já maiores do que
eu, na importância, no tempo, e estarão
ao nível dos meus olhos e nada mais
deverá ser o meu objectivo senão
partir definitivamente

hoje, sete de junho de dois mil e sete,
tenho trinta e cinco anos e sei
exactamente quando morri. o que aqui
têm é luz refractada e a
resistência ultrajante da palavra

(valter hugo mãe, "folclore íntimo" / Cosmorama Edições)
Antony and the Johnsons
THE CRYING LIGTH


THE CRYING LIGTH

sábado, 24 de janeiro de 2009

A NATUREZA REVOLUCIONÁRIA DA FELICIDADE
Foi no dia 22 de Janeiro, mais uma Quinta de Leitura no Teatro do Campo Alegre.
Um espectáculo lindo e para recordar.
Os desenhos do valter em grandes dimensões, a encenar as palavras ditas por ele, Maria do Céu Ribeiro, Pedro Lamares e Isaque Ferreira e também a música do Bruno Pereira e do pianista Pedro Pereira. Parabéns
O João Gesta fez um bom trabalho e toda a sua equipe.
valter hugo mãe
Isaque Ferreira
Maria do Céu Ribeiro











Pedro Lamares

Fotografias de Sara Moutinho

NE ME QUITTE PAS - JAQUES BREL

Ne Me Quitte Pas - MAYSA

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Poema de ISABEL DE SÁ

O PÓ NEGRO DA CIDADE

As árvores das grandes avenidas
estão cheias do pó negro
do ruído da cidade.
Somos peças da engrenagem;
o homem dos impostos, os trolhas,
o funcionário do banco
que fala comigo, porque se aborrece.
Todas as manhãs, o aspirante
a poeta cumpre um horário
à mesa do café.
Motorizadas, raparigas fumam
a caminho do emprego. O gasóleo
dos transportes públicos e dos
automóveis mais potentes. O luxo
exibido ao fim da tarde. Passam
grupos de pretos
elegantemente vestidos, passeia-se
a loira da hospedaria. A s outras,
pobres, dementes, sentam-se na berma
da estrada. E, no shopping, na loja
de video um velho de aspecto reles
com gel nos cabelos e gravata vermelha.
O pai de família com a sua máquina
de filmar, os cartões de crédito,
o automóvel a prazo.

Saem das barracas, dos bairros
infectos, crianças que emigram
para junto dos semáforos. Vendem-se
na rua adolescentes ainda
de aparência saudável.
Comboios apitam, o vento mudou,
nublou-se o céu. O povo tem
uns trocos, vai a todo o lado.
Tem aquele gosto ofuscante
no vestuário e cospe para o chão.
Na classe política muitos javardos
aprendem com o livre trânsito.
Aparentam serenidade, apenas
um sorriso para encobrir a vergonha,
a pobreza de sermos tão sós. Os hotéis
de luxo repletos de turistas
da Comunidade. Vestem calções,
calçam chinelos de piscina, sentem-se
à vontade na pátria de Camões.

Os rapazes pedem moedas para o almoço,
o jantar, colam-se aos carros, não admitem
a privacidade do cidadão. Andam drogados,
já muito doentes, a boca podre.
Ainda existe o engraxador
perto da estação. Palito entre os dentes,
umas garrafas misturadas ao ofício.
O advogado, o doutor em letras
atravessam a praça compenetrados
na importância do seu papel. O fato,
a gravata, a pasta a estoirar
de documentos. Talvez no meio da confusão
haja uma carta sentimental, a foto
do filho recém-nascido: um futuro
qualquer para iludir a vida mercantil.

13ºlivro-Erosão de Sentimentos, 1997, Repetir o Poema, Quasi Edições, 2005

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Morreu o meu primeiro Galerista
JAIME ISIDORO 1924 -2009






Um dos fundadores da Bienal de Arte de Vila Nova de Cerveira
Jaime Isidoro, pintor, galerista e fundador da Bienal de Arte de Vila Nova de Cerveira, morreu esta madrugada, no Porto, aos 84 anos. Nascido a 21 de Março de 1924, Jaime Isidoro estudou desenho e pintura na Escola Soares dos Reis, no Porto, e realizou na sua cidade a primeira exposição individual em 1945, no então designado Salão Fantasia (na Rua 31 de Janeiro). O Porto foi o tema principal dos seus quadros, principalmente aguarelas, mas Isidoro destacou-se também na cidade como galerista e divulgador de arte, nomeadamente através da Academia e Galeria Alvarez, que fundou em meados da década de 50, e, mais tarde, com a Galeria Dois, na Boavista.
Publico, 21 de Janeiro

ANTONY AND THE JOHNSONS FOR PRADA

PINTURA DE AUGUSTO CANEDO




terça-feira, 20 de janeiro de 2009

UM DIA PARA A HISTÓRIA


VIVA OBAMA

Danilo Nacarato 08 - Filme de Kitesurf



Como já estamos fartos do Inverno e deste frio, este filme lembra o Verão.

O protagonista é o meu aluno Danilo Nacarato. Obteve o 2º lugar no Ranking geral do Campeonato Português de Kitesurf em 2008.

Só é pena existir uma arma neste filme. Continuo a não concordar com este tipo de efeitos visuais.





















PORTUGAL - O TAL QUE ESTÁ MAL

Neste país de anedota, o medo já se instalou nas cabeças dos crentes.
As missas começaram. A tentativa de impedir a aprovação do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo é o grande objectivo da Igreja.
Esperam ansiosos pela aparição da Nossa Senhora, para os orientar nas estratégias contra uma sociedade mais plural e menos fundamentalista.