POESIA IN POESIA IN POESIA IN
No próximo Domingo - 5 de Abril
Poetas Emergentes no espaço BREYNER85
Porto - Rua do Bryner 85 - 18horas
Poemas de Pedro S.Martins, Susana Guimarães,
Luís Pedro Afonso, Pedro Tavares, João Borges,
Nuno Brito,Bruno Brasil, Jorge Afonso e Marco Dias
Sessão organizada pela Poetria
domingo, 29 de março de 2009
sábado, 28 de março de 2009
Poema de JOÃO BORGES
Lá ao longe está a vida, e eu aqui a vê-la decorrer sem tomar parte nela.
Sinto por vezes que tenho muita idade. Estou cansado e desiludido. É como se tivesse feito um percurso e o fim dele se aproximasse já.
Talvez seja mesmo isso.
Sei que dentro de mim, alastra esta tristeza e a vontade de não estar aqui. Fora de mim, este largo é caótico, são os carros que quase se atropelam, as pessoas velhas, feias, mal vestidas e quando falam parecem alucinadas; uns quantos jovens, alguns mais velhos que eu, não têm noção de que mundo é este e entregam-se de olhos fechados ao paraíso que outros ficcionaram para eles.
Dentro de mim , a solidão de um amor que se desfaz e se repete, corroendo-me. Tudo é negro e cansativo. Há o silêncio que equivale à morte e o meu cadáver esquecido no deserto.
No entanto o coração insiste em bater, os pulmões respiram e acabo por viver mais um dia e mais outro, paredes -meias com este pesadelo.
Sinto por vezes que tenho muita idade. Estou cansado e desiludido. É como se tivesse feito um percurso e o fim dele se aproximasse já.
Talvez seja mesmo isso.
Sei que dentro de mim, alastra esta tristeza e a vontade de não estar aqui. Fora de mim, este largo é caótico, são os carros que quase se atropelam, as pessoas velhas, feias, mal vestidas e quando falam parecem alucinadas; uns quantos jovens, alguns mais velhos que eu, não têm noção de que mundo é este e entregam-se de olhos fechados ao paraíso que outros ficcionaram para eles.
Dentro de mim , a solidão de um amor que se desfaz e se repete, corroendo-me. Tudo é negro e cansativo. Há o silêncio que equivale à morte e o meu cadáver esquecido no deserto.
No entanto o coração insiste em bater, os pulmões respiram e acabo por viver mais um dia e mais outro, paredes -meias com este pesadelo.
Poema de JOÃO RIOS
apressavam os verbos as mulheres sentadas mudando a natureza escondiam os homens obscurecendo os lugares e mergulhavam
para a usura dos dedos
absorvendo a música de um dévio rumor de erecção revolvendo águas
aclarando-se em golpes alçavam as suas guelras e guiavam os nomes mais
para dentro dos demónios de um amor sem salvação um amor ocupado
por estreitas redes de entenebrecer
absorvendo a música de um dévio rumor de erecção revolvendo águas
aclarando-se em golpes alçavam as suas guelras e guiavam os nomes mais
para dentro dos demónios de um amor sem salvação um amor ocupado
por estreitas redes de entenebrecer
Poema do livro "O Ópio da Tempestade", 2009
quarta-feira, 25 de março de 2009
Borderline Case, acrílico s/tela, 80x120cm, 1992
Na próxima Sexta-Feira, 27 de Março, vou estar presente numa aula de História de Arte, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a convite da Dra. Leonor Barbosa Soares. Irei falar do meu percurso artístico, projectar trabalhos e apresentar alguns exemplos da minha obra gráfica como Designer. Quem quiser pode assistir. A aula começa às 17.30h, no 2ºpiso da Faculdade.
segunda-feira, 23 de março de 2009
domingo, 22 de março de 2009
POESIA POESIA POESIA POESIA POESIA
A noite estava fria, muito fria, mas as pessoas permaneciam de pé, algumas sentadas e todas atentas às palavras, aos poemas ditos pelo João Rios, acompanhado pelo seu Colectivo Silêncio da Gaveta. Foi uma sessão de poesia memorável. Poemas de autores indiscutíveis e também de jovens poetas emergentes. Autores como João Borges, Pedro Tavares e outros que, emocionados, ouviram os seus poemas com acompanhamento musical lançados para a noite, em Vila do Conde.
domingo, 15 de março de 2009
No próximo sábado 21 de Março inicia-se a PRIMAVERA
e comemora-se o DIA DA POESIA
Instalação de poemas nas árvores e leitura
pelo colectivo Silêncio da Gaveta.
Acompanhamento musical de Eduardo Patriarca
23h junto ao coreto da Avenida Júlio Graça.
Poemas de vários poetas contemporâneos e de
e comemora-se o DIA DA POESIA
Instalação de poemas nas árvores e leitura
pelo colectivo Silêncio da Gaveta.
Acompanhamento musical de Eduardo Patriarca
23h junto ao coreto da Avenida Júlio Graça.
Poemas de vários poetas contemporâneos e de
poetas emergentes. Paulo da Costa Domingos,
Jorge Velhote, Eduarda Chiote, Helga Moreira,
Pedro Tavares, João Rios, Isabel de Sá,
valter hugo mãe, João Borges e muitos mais.
sábado, 14 de março de 2009
O Fenómeno da Sedução
O fenómeno da sedução possui três características fundamentais: a subjectividade, pois o que fascina uma pessoa pode deixar outra indiferente; a desproporção, já que não existe correlação entre a relevância do estímulo e o seu efeito (um simples perfume pode despoletar uma paixão e um documentário televisivo pode mudar a trajectória profissional de um indivíduo); e a imprevisibilidade, pois a atracção do objecto surge de modo fulgurante, invadindo o espaço da pessoa afectada para modificá-lo ligeiramente ou para desordená-lo por completo. Por tudo isto, a sedução não pode ser pensada, planificada ou explicada a priori, as suas causas só são encontradas depois. Os psicólogos falam dessa flecha instantânea para se referir aos detonadores que iniciam um processo de amizade, uma porta que só abre após a misteriosa faísca que surge no momento em que duas pessoas se conhecem.
Cada um apaixona-se por um tipo de pessoa
No âmbito sentimental acontece o mesmo. Todos acreditamos que se trata do terreno da sedução por excelência, mas uma relação estável baseia-se no carinho, na admiração, no interesse ou noutras razões que fazem que o vínculo seja firme e não necessariamente satisfatório. Por isso, seria melhor falar em paixão, um sentimento que nunca se experimenta por conveniência.
Embora elementos como o dinheiro possam disfarçar de sedutor quem os possui, o processo de deixar-se arrebatar por uma pessoa é sincero, espontâneo e esmagador. Os psicólogos não sabem ao certo por que motivo acontece mas, nas três ou quatro ocasiões em que isso se produz ao longo da vida, rendemo-nos a gente parecida, a pessoas que, embora possam ter aspectos distintos, possuem características fisicas ou psicológicas semelhantes.
O segredo, por conseguinte, não reside no outro e nas suas características, mas sim em nós mesmos e nos nossos próprios gostos. Em concreto, cada qual é sensível a determinadas tipologias humanas, embora, neste jogo, alguns sejam os "engatatões" e outros os propensos a apaixonar-se.
Mais adiante, quando a paixão começa a arrefecer e é substituída pelo amor, o que nem sempre acontece, a sedução perde efervescência e o mistério dilui-se. Nessa altura, conhecemo-nos mais, mas seduzimo-nos menos.
(...) A vida oferece-nos grandes doses de beleza e a passagem do tempo ensinou-nos a saber onde encontrá-la. Ellen S. Berscheid, investigadora e professora da Universidade do Minnesota, estudou o impacto da atracção estética e a influência inconsciente que exerce nas relações interpessoais para chegar a uma conclusão tão indiscutível como injusta: para os favorecidos, a vida é mais fácil.
Devido ao "efeito de halo", como se designa em psicologia esse mecanismo de avaliação cognitivo, as pessoas de aspecto agradável são consideradas mais inteligentes, honestas e benevolentes, ganham mais dinheiro, ocupam cargos mais importantes e casam com maior facilidade. Em definitivo, seduzem.
Texto da psicóloga Pilar Varela, As Chaves Psicológicas da Sedução.
"A sedução está relacionada com o êxito no amor mas não só. Seduzimos de cada vez que comunicamos uns com os outros e conseguimos que a pessoa em causa se sinta atraída por nós. Tem uma carga genética, porque há pessoas mais extrovertidas, que conseguem seduzir mais facilmente, e outras que nem tanto. Mas também têm influência as relações precoces com pais, amigos, professores. Até os mais introvertidos aprendem técnicas para conseguir seduzir. E há quem se sirva dessa introversão para os mesmos fins, conseguindo conquistar de uma forma muito original.
SEDUÇÃO
Seduzir, no dicionário, significa inclinar artificialmente para o mau ou para o erro; enganar ardilosamente; desencaminhar; desonrar, valendo-se de promessas; atrair; encantar; fascinar; revoltar; subordinar para fins sediciosos.
A sedução faz parte do jogo que a própria vida inventou para a continuidade das espécies. Na verdade, é como tudo o que é natural. Todos os seres humanos são sedutores por natureza e a todo momento utilizam essa capacidade, de forma consciente ou não. Quando alguém fala, está tentando "seduzir" os outros para que concordem com a sua opinião. Uma criança, por exemplo, utiliza a sua capacidade de sedução para conseguir dos pais o presente que deseja.
A sedução tem a força de um enigma a resolver: o outro é um enigma e, para seduzi-lo, é preciso ser outro enigma para ele. Seduzir é desviar o outro da sua verdade e essa verdade a partir de então forma um segredo que lhe escapa. É um poder de atracção e de distração, um poder de absorção e de fascinação.
A sedução faz parte do jogo que a própria vida inventou para a continuidade das espécies. Na verdade, é como tudo o que é natural. Todos os seres humanos são sedutores por natureza e a todo momento utilizam essa capacidade, de forma consciente ou não. Quando alguém fala, está tentando "seduzir" os outros para que concordem com a sua opinião. Uma criança, por exemplo, utiliza a sua capacidade de sedução para conseguir dos pais o presente que deseja.
A sedução tem a força de um enigma a resolver: o outro é um enigma e, para seduzi-lo, é preciso ser outro enigma para ele. Seduzir é desviar o outro da sua verdade e essa verdade a partir de então forma um segredo que lhe escapa. É um poder de atracção e de distração, um poder de absorção e de fascinação.
quinta-feira, 12 de março de 2009
Poema de Jorge Velhote
O meu olhar dobra-se como um seixo impelido
pela espuma do mar, declina-se como o cristal
no fogo, o brilho da bruma inflama as árvores,
no entanto, rompem líquenes e iridescentes
pétalas, os mortos rodam em redor dos troncos
as suas cabeças de musgo e pólen – silvam
como o vento nas pupilas, debicam-me as gotas
do suor, murmuram porque espreitam
sedentos a lavra discernida dos animais.
Perscruto no labirinto dos mortos a fresca sombra,
as folhas caídas na sua secura e ferrugem -- na pupila
cessa de crescer o bosque luminoso, o acaso fluvial
das sílabas, o enigma da solidão e destino --,
o que estremece quando se despenha ao alto
no antiquíssimo vinho que nas ânforas se acolhe,
o que nos ribeiros é rumor ou pousada de silêncio apenas.
Na fissura da penumbra o tumulto ensombrece o meu
olhar que declina infindo, bactéria que se hospeda
no perímetro muscular e se demora célere
expande o que observo esquecido na aragem
de um ramo de siglas e eclipses e tábuas.
O meu olhar dobra-se como um seixo impelido
pela espuma do mar, declina-se como o cristal
no fogo, o brilho da bruma inflama as árvores,
no entanto, rompem líquenes e iridescentes
pétalas, os mortos rodam em redor dos troncos
as suas cabeças de musgo e pólen – silvam
como o vento nas pupilas, debicam-me as gotas
do suor, murmuram porque espreitam
sedentos a lavra discernida dos animais.
Perscruto no labirinto dos mortos a fresca sombra,
as folhas caídas na sua secura e ferrugem -- na pupila
cessa de crescer o bosque luminoso, o acaso fluvial
das sílabas, o enigma da solidão e destino --,
o que estremece quando se despenha ao alto
no antiquíssimo vinho que nas ânforas se acolhe,
o que nos ribeiros é rumor ou pousada de silêncio apenas.
Na fissura da penumbra o tumulto ensombrece o meu
olhar que declina infindo, bactéria que se hospeda
no perímetro muscular e se demora célere
expande o que observo esquecido na aragem
de um ramo de siglas e eclipses e tábuas.
quarta-feira, 11 de março de 2009
Poema de João Rios
Dez passos depois das árvores
1
no agudo labor das trevas dos dedos
acolhe o amante o campo de batalha
quer num círculo de sangue vencer a
usura de uma flor quebrada
2
flutuam as calças dos amantes abrem as guelras
ouvem-se morrendo na voz que é trapo de vento sitiado pelo mar
3
estão antes de deus mergulhados na inocência
dos frutos acrescentados pela cegueira que
pensa ser casa do corpo mas algo inquebrável neles se agita e brota do feno evolando-se
num instante pássaro agredindo o fulgor
da cabeça e as mãos desviam-se em correria feito água absorvendo-se curiosas no acto da faca que é o ventre talhado sobre a mesa
4
os amantes ramificam-se no interior da noite oferecem a urze dos cabelos que são livros pousados à espera do arremesso do sexo
livros suspensos pelo fósforo das lombadas que ultrapassam a impureza dos amplexos e se dão por bastardos da ignorância do ar
5
se o que os atravessa se despenha no horto como pedras exaustas de ter pássaros doendo nas raízes
acordam os pés cegam as árvores
são uma paisagem de costas atando-os à robustez equídea que os ocupa
6
é um coágulo de flor no sono a bruma
ou pulso abatendo-se sobre as suas cabeças desabotoando-se ascende arrastando a memória pelos cabelos porque os seus dentes são inexpugnáveis estames sorvendo o oxigénio
7
deitam-se depois das árvores vagarosamente
escorrendo o seu peso desembruxados dos
gravetos que os sustentam debulham os ecos
de deus entornam-se na pele atordoada dos
frutos
chamam ao silêncio restos das aparências do mundo levitam inchados na teia dos mamilos
procuram no útero os tendões de um sismo
Dez passos depois das árvores
1
no agudo labor das trevas dos dedos
acolhe o amante o campo de batalha
quer num círculo de sangue vencer a
usura de uma flor quebrada
2
flutuam as calças dos amantes abrem as guelras
ouvem-se morrendo na voz que é trapo de vento sitiado pelo mar
3
estão antes de deus mergulhados na inocência
dos frutos acrescentados pela cegueira que
pensa ser casa do corpo mas algo inquebrável neles se agita e brota do feno evolando-se
num instante pássaro agredindo o fulgor
da cabeça e as mãos desviam-se em correria feito água absorvendo-se curiosas no acto da faca que é o ventre talhado sobre a mesa
4
os amantes ramificam-se no interior da noite oferecem a urze dos cabelos que são livros pousados à espera do arremesso do sexo
livros suspensos pelo fósforo das lombadas que ultrapassam a impureza dos amplexos e se dão por bastardos da ignorância do ar
5
se o que os atravessa se despenha no horto como pedras exaustas de ter pássaros doendo nas raízes
acordam os pés cegam as árvores
são uma paisagem de costas atando-os à robustez equídea que os ocupa
6
é um coágulo de flor no sono a bruma
ou pulso abatendo-se sobre as suas cabeças desabotoando-se ascende arrastando a memória pelos cabelos porque os seus dentes são inexpugnáveis estames sorvendo o oxigénio
7
deitam-se depois das árvores vagarosamente
escorrendo o seu peso desembruxados dos
gravetos que os sustentam debulham os ecos
de deus entornam-se na pele atordoada dos
frutos
chamam ao silêncio restos das aparências do mundo levitam inchados na teia dos mamilos
procuram no útero os tendões de um sismo
terça-feira, 10 de março de 2009
LOVE COME BACK TO MY HEART
Retrato de João Borges por Graça Martins, acrílico s/tela, 80x120cm, 2008
(...)
Pouco ou nada me pertence. Morrerei e as cinzas ficarão nas ondas onde corpos que tanto desejei se irão banhar.
Que sono me fecha os olhos, que morte? De onde vem, agora, este colapso.
Estou sempre com sede, nunca me canso de beber. Visto-me de preto porque a luz me incomoda. E nunca digo "É agora". Nunca senti que pudesse ir. (...)
Retrato de João Borges por Graça Martins, acrílico s/tela, 80x120cm, 2008
(...)
Pouco ou nada me pertence. Morrerei e as cinzas ficarão nas ondas onde corpos que tanto desejei se irão banhar.
Que sono me fecha os olhos, que morte? De onde vem, agora, este colapso.
Estou sempre com sede, nunca me canso de beber. Visto-me de preto porque a luz me incomoda. E nunca digo "É agora". Nunca senti que pudesse ir. (...)
João Borges
domingo, 8 de março de 2009
POEMA DE ISABEL DE SÁ
ELOGIO AO AMOR
Encontram-se num bar,
uma era escritora e a outra
master em literatura inglesa.
Ambas nascidas no princípio do século,
viriam juntas a celebrar a vida.
Ainda eu não tinha nascido
e elas fixavam residência
na ilha dos Montes Desertos
para o esplendor e a decadência.
Marguerite preocupada
com o enigmático percurso da vida:
papeis em ordem, placa fúnebre.
Grace
fustigando a morte,
coração queimado pela doença
intrusa.
A privação das viagens foi tormentosa,
a glória e a desolação
foram um só corpo.
É preciso esquecer
que a vida mata e o espelho
reflecte aquilo que somos.
Ficaram as cinzas
no cemitério da Ilha.
DeeDee, a incansável, o ser de excepção.
Repetir o Poema, Quasi Edições, 2005
Encontram-se num bar,
uma era escritora e a outra
master em literatura inglesa.
Ambas nascidas no princípio do século,
viriam juntas a celebrar a vida.
Ainda eu não tinha nascido
e elas fixavam residência
na ilha dos Montes Desertos
para o esplendor e a decadência.
Marguerite preocupada
com o enigmático percurso da vida:
papeis em ordem, placa fúnebre.
Grace
fustigando a morte,
coração queimado pela doença
intrusa.
A privação das viagens foi tormentosa,
a glória e a desolação
foram um só corpo.
É preciso esquecer
que a vida mata e o espelho
reflecte aquilo que somos.
Ficaram as cinzas
no cemitério da Ilha.
DeeDee, a incansável, o ser de excepção.
Repetir o Poema, Quasi Edições, 2005
DIA 8 DE MARÇO
MARGUERITE YOURCENAR
Marguerite Yourcenar nasceu em 1903, em Bruxelas. As suas obras, situadas no ambiente da Roma clássica e do Renascimento, abordam a homossexualidade, a androginia e a mística oriental. Alexis, Memórias de Adriano e A Obra ao Negro são alguns dos seus sucessos.
Marguerite, viveu 42 anos com Grace Frick, uma americana Mestre em Literatura Inglesa, que conheceu em Paris.
Marguerite Yourcenar foi a primeira mulher a ser membro da Academia Francesa, em 1981. Faleceu em 1987 com 84 anos e ninguém da Academia ( fundada em 1635) compareceu no funeral. Nunca lhe perdoaram ter sido eleita, mulher e homossexual.
sexta-feira, 6 de março de 2009
quinta-feira, 5 de março de 2009
Paulo da Costa Domingos
Eu sou a cabra que tu vês à esquina logo de manhã quando caminhas com o cabaz das compras e a criada atrás
Fui eu quem assaltou hoje a mercearia do sr. José, coitado, mesmo à tua porta, e que causou um alvoroço enorme
Eu arrastei a tua catraia tão sossegadinha à força para dentro duma escada e, acredita, nunca pensei que uma miúda já soubesse tanto
E passo acima-abaixo na tua rua rente à janela do teu lar à procura dum homem, tu és dos que chamam palavrões a este cio homoxessual e escondes a cara nas cortinas
Eu sou dos que perde os dias no café sem fazer nada, essa canalha
Deito-me com mulheres de qualquer idade e até faço amor com a tua filha
Tenho vícios astrais, a minha boca conhece a do anjo de Filadélfia
Visto-me de mulher, visto-me de homem, quando calha até me visto de coisa sonsa e hipócrita
Durante a noite ando aos caixotes, mergulho o nariz na náusea dos edifícios
E partilho das gamelas dos freaks desta cidade
Não me chateies mais com os teus problemas transcendentes
Fui eu quem assaltou hoje a mercearia do sr. José, coitado, mesmo à tua porta, e que causou um alvoroço enorme
Eu arrastei a tua catraia tão sossegadinha à força para dentro duma escada e, acredita, nunca pensei que uma miúda já soubesse tanto
E passo acima-abaixo na tua rua rente à janela do teu lar à procura dum homem, tu és dos que chamam palavrões a este cio homoxessual e escondes a cara nas cortinas
Eu sou dos que perde os dias no café sem fazer nada, essa canalha
Deito-me com mulheres de qualquer idade e até faço amor com a tua filha
Tenho vícios astrais, a minha boca conhece a do anjo de Filadélfia
Visto-me de mulher, visto-me de homem, quando calha até me visto de coisa sonsa e hipócrita
Durante a noite ando aos caixotes, mergulho o nariz na náusea dos edifícios
E partilho das gamelas dos freaks desta cidade
Não me chateies mais com os teus problemas transcendentes
Travesti, & etc, Lisboa, 1979
quarta-feira, 4 de março de 2009
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