sábado, 30 de maio de 2009















A propósito de uma madrugada/manhã, na praia de Ourigo, Foz. Falava-se de poesia e matava-se o cansaço com tremoços e batatas Pringles. Um momento mágico.
Imagem de João Guedes

JOAQUIM MANUEL MAGALHÃES

Quando o visitante, o inesperado rapaz
vindo duma noite distante, partir, partiu,
quem vai lembrar o pranto, o rasgão
da morte, o sangue o sangue correndo?
Ele é o eco de passos que não houve
e acordou a clara água de aves
adormecendo a manhã, a raiz fria
de uns dedos sábios e perdidos.
Trouxe o desejo de imaginárias mãos
ele, o despedido, aquele em quem ficamos
cantando os lados claros da noite,
os prédios encobertos de chuva e luz.
Quem era, quem é? Foi um imprevisto
cruzar de linguagem, matinal anúncio
de superfícies marinhas, de ágeis barcos
onde o amor corria. Imagina, rapaz rápido,
teu esforço sobre mim nesta agora despedida,
boca inútil para braços presos, sedução.
O visitante sai, saiu, virá um dia
carregado com o tempo que se rejeitou,
a voz fria, o encanto de chorar desaparecido.

Vestígios, Centelha, 1977

quinta-feira, 28 de maio de 2009

José Saramago, Lídia Jorge e Daniel Sampaio apoiam casamento entre homossexuais

Movimento pela legalização do casamento gay vai ser lançado no domingo em Lisboa

O psiquiatra Daniel Sampaio, a constitucionalista Isabel Mayer Moreira e a actriz e escritora Ana Zannati são três das personalidades que, no domingo às 16h, subirão ao palco do cinema São Jorge, em Lisboa, para explicar publicamente as razões pelas quais integram o Movimento Pela Igualdade no acesso ao casamento civil (MPI) e subscrevem o seu manifesto. Imediatamente antes, o documento será lido pela actriz Fernanda Lapa.

Outros apoiantes; Ana Luísa Guimarães, Julião Sarmento, a jurista Teresa Beleza, o jornalista Miguel Sousa Tavares, o cientista Alexandre Quintanilha, humoristas Herman José e Ricardo Araújo Pereira, actores Alexandra Lencastre, Catarina Furtado, Soraia Chaves, Filipe Duarte, Nuno Lopes Pepê Rapazote.

São José Almeida, Público, 27 de Maio, 2009

Imagem de João Guedes


"Governo fascista é a morte do artista"

Do episódio da António Arroio tiram-se várias conclusões. A primeira e mais óbvia é que as aulas de História devem andar pelas ruas da amargura e não apenas em Espinho. É preciso saber poucochinho do passado e também do presente para considerar Sócrates fascista. E é sobretudo necessário ignorar o papel desempenhado por aqueles que designavam vanguardas artísticas na implementação dos totalitarismos, para gritar que "Governo fascista é a morte do artista". Os subsídios aos artistas, os apoios à criação e a ideia de que os governos devem ter uma política cultural própria, tudo isso do agrado dos meninos da António Arroio, faz parte da ideologia fascista. Li que os responsáveis da António Arroio se propôem fazer uma espécie de conferência com os alunos para esclarecer equívocos. Seria muito útil se lhes explicassem o papel desempenhado pelos artístas de vanguarda no Secretariado da Propaganda Nacional dos anos 30 e durante o PREC, em 1975. O país pouparia dinheiro e os artistas ganhariam independência e, consequentemente, qualidade.
Para o fim um pedido ao primeiro-ministro: não saia pela porta das traseiras. Quando for apenas um cidadão, saia como quiser e por onde quiser. Enquanto for primeiro-ministro, coisa que eu espero ansiosamente que finde, saia pela porta da frente. Ao menos isso. Não envergonhe a democracia. Como assinala o blogger Nuno Nogueira Santos, o último primeiro-ministro da ditadura, Marcelo Caetano, quando, no Quartel do Carmo, lhe foi proposto que saísse pelas traseiras respondeu: Não! Só saio daqui pela porta por onde entrei. A porta da frente. "Salgueiro Maia percebeu como sair pela porta da frente era importante para a dignidade de Marcelo Caetano, dos militares que o depunham e do regime que dali nasceria. Com poucos homens e muita coragem Salgueiro Maia levou Marcelo Caetano pela porta da frente. É nestas coisas que as pessoas se distinguem.
Helena Matos, Público, 27 de Maio, 2009









SERRALVES 2009 - "A Colecção"

30 Mai - 27 Set 2009 - MUSEU

Esta exposição da Colecção da Fundação de Serralves apresentará um balanço do trabalho desenvolvido com o acervo ao longo desta última década. Ocupando todo o Museu e o Parque, esta exposição irá apresentar obras maiores, representativas quer do núcleo histórico da Colecção (abrangente das décadas de 60 e de 70) quer das constelações de artistas identificáveis no acervo desde a década de 80 até à actualidade. Esta exposição será um importante momento onde se tornará visível o programa da colecção, assim como as incorporações recentemente efectuadas, que serão mostradas ao público pela primeira vez.

Comissariado: João Fernandes e Ulrich Loock
Produção: Fundação de Serralves

quarta-feira, 27 de maio de 2009

LIVROS LIVROS LIVROS

FEIRA DO LIVRO DO PORTO

Hoje, dia 27 de Maio, inicia-se a 79.ª Feira do Livro do Porto, que este ano regressa à Avenida dos Aliados, local que acolheu, há 79 anos, a primeira feira do livro da cidade.
A feira apresenta-se este ano com uma nova imagem - novos pavilhões, os mesmos que foram utilizados na Feira de Lisboa, duas esplanadas e um auditório. Os horários de funcionamento foram ajustados ao novo local. Durante a semana, a abertura foi antecipada para as 12.30 horas,, passando a feira a estar aberta à hora do almoço e encerrando às 20.30 horas, acompanhando o habitual esvaziamento da Baixa da cidade no período pós-laboral. Aos sábados, domingos e feriados, o funcionamento é alargado, estando a feira aberta das 11 às 23 horas.
A abertura ao público está marcada para as 12h30 do dia 27 de Maio, com inauguração oficial marcada para as 17h00 horas, na Esplanada / Praça Central. A Feira do Livro do Porto estará aberta até 14 de Junho.

domingo, 24 de maio de 2009

O beijo
de Godot

Ontem não anoiteceu. Queria ver a lua cheia do teu olhar. Mas não aconteceu. Não sei. Talvez alguém se tenha esquecido. As pessoas estão sempre a esquecer-se de alguma coisa. Estão sempre a varrer a memória. Ontem não anoiteceu. Mas não me importo. Agora estás aqui. É essa a minha certeza. Agora!
Aqui! Aqui! Aqui! Aqui! Aqui! Aqui! Aqui! Aqui! Aqui! Aqui!
Chega-te a mim. Aproxima-te. Deixa que os teus olhos falem com os meus numa língua muda de palavras. Apenas o silêncio. Há tanta coisa que o silêncio pode dizer. O silêncio revela aquilo que a razão oculta. Desnuda o teu pensamento e entra em mim. Faz-me estremecer com o silêncio do teu olhar. Olha para mim. As pessoas já não se olham. Têm pressa. Têm pressa de partir. Têm pressa de chegar. Partir e chegar a algum lugar, mesmo que esse lugar seja um não-lugar qualquer. Eu não tenho pressa. Ou então têm medo. Medo de si próprias. Medo dos outros. Medo da liberdade. Medo de sentir. Medo de viver. Não entendo o medo. Medo! Medo! Medo! Medo! Medo! Medo! Medo! Medo! Medo! Medo! Medo! Medo! Medo! Medo! Medo! Medo! Medo!
Aproxima-te. Quero sentir o calor dos teus lábios roçarem os meus e perder-me na tua respiração ofegante. Beija-me. Beija-me se for esse o teu desejo. Eu não tenho pressa. Posso esperar. Posso esperar por aquilo que ainda não conheço. é como esperar por Godot. É como esperar por um beijo de Godot. Hoje já ninguém tem paciência para esperar. Tu és extensão de mim. Somos todos extensões uns dos outros. Vejo tantos rostos à minha frente. São como as ondas do mar. Um vaivém inquietante que não se questiona. Porquê? Quem sabe porquê? Eu ainda não sei porquê. Penso que já não quero saber porquê. Estou cansada de pensar.
Ontem, quando não anoiteceu, cruzei-me contigo no elevador. Desviaste o olhar com um sorriso húmido. Pensei nas gotas de chuva que acariciam as pétalas das rosas depois de as terem fustigado na tempestade. O veludo das pétalas das rosas é tão macio. Às vezes pensamos tanta coisa ao mesmo tempo. Mergulhamos numa trovoada de pensamentos. Imaginei as tuas carícias perfumadas de pétalas de rosa a suspirarem de prazer na minha pele sedenta. Sempre esta perturbação por conhecer o teu silêncio, essa imensidão que me aquece sem pedir licença. É assim que a tua ausência permanece em mim.
Filipa Aranda

KISS MY NAME - ANTONY AND THE JOHNSONS

sábado, 23 de maio de 2009

FRASES FAMOSAS DE FRIEDRICH NIETZSCHE

Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.

Tudo é precioso para aquele que foi, por muito tempo, privado de tudo.

Torna-te aquilo que és.

Temos a arte para não morrer da verdade.

A vontade é impotente perante o que está para trás dela. Não poder destruir o tempo, nem a avidez transbordante do tempo, é a angústia mais solitária da vontade.

sábado, 16 de maio de 2009
















ANTONY
THE CRYING LIGTH
Antony And The Johnsons
Coliseu do Porto, 18 de Maio pelas 21.39h
PARA OS ELEITOS QUE CONSEGUIRAM BILHETE







Fotos de Graça Martins
Arquivo dos Anos 80











Fotos de Graça Martins
Arquivo dos Anos 80


















Poema de João Borges

Há um lugar chamado medo

A cidade, ao longe o ruído.
Ficamos sózinhos, peças de xadrez
na mancha escura do silêncio,
de um lado para o outro,
à espera.

Não me disseram que o tempo passaria
e tu também. A morte repetida
como se fosse a primeira vez.
No longo e doloroso abraço,
o sabor amargo da vida
tornou-se lei.
A Figura e o seu Duplo


Graça Martins, acrílico s/tela, 80x120cm, 1997

quarta-feira, 13 de maio de 2009

"A arte é o tempo parado"

Bonnard

PIERRE BONNARD era de tal modo perfeccionista que ia aos museus, por vezes, com um pincel escondido no bolso, corrigir um pormenor numa das suas telas.
Pintor intimista, fala-nos de uma vida sem sobressaltos. Pintor da felicidade para quem "A arte é o tempo parado".
Bonnard não se preocupa com grupos ou movimentos:"Não pertenço a nenhuma escola, tento apenas fazer qualquer coisa minha". Faleceu em 1947.
A NUDEZ REVELADA EM BONNARD

LUZ E SOMBRA NA INTIMIDADE





























A BELEZA DA COR EM BONNARD






terça-feira, 12 de maio de 2009

POEMA DE JORGE MELÍCIAS


À beira das salinas os homens declinam.

De longe a longe vêm os filhos,
trazem a solidão como um metal nas costas,

trazem um enxame de dardos.

E a memória é um pulso atravessado.

Quando partem fecham atrás de si portas,
e os homens voltam a sentar-se sobre as estacas

e brilham.
Disrupção, (poesia reunida), COSMORAMA edições, 2008

domingo, 10 de maio de 2009


LUTO E MELANCOLIA

Freud evocou diversas vezes o sonho como modelo de delírio e o luto como modelo da depressão. Na sua auto-análise, o luto desempenhou um enorme papel, e temos o direito de supor que no processo psicanalítico que elaborou por analogia com a sua auto-análise esteja infiltrado por esse modelo.
Efectivamente, o procedimento científico consiste em esclarecer o desconhecido através do conhecido, constituindo este último um conjunto, uma rede de elementos, um modelo. O modelo apenas tem valor heurístico se conseguir realmente iluminar o que até aí era desconhecido.
Nesta perspectiva, podemos examinar a patologia da mudança sob o ângulo do luto; na história das ideias postulamos diversas vezes, de acordo com Aristóteles (Problemata 31, 1), a existência de um elo entre a depressão e a criatividade. A análise poderia ser considerada como uma tentativa de restaurar o equilíbrio depois de uma ferida narcísica, de uma perda da imagem ideal do Eu.
Em Luto e Melancolia, Freud descreve o trabalho de luto como derivando da "exigência de retirar toda a libido dos laços que ainda o prendem ao objecto" (perdido)..."Cria-se então, uma revolta compreensível",depois "o respeito pela realidade leva-a". Esta tarefa é conseguida ao longo de um processo em que "o desprendimento da libido é realizado. Cada recordação, cada esperança através das quais a libido se fixou no objecto, foram apostadas no trabalho, sobre-investidas". Podemo-lo aproximar do trabalho interior que acontece na análise.
Assim, o processus terapêutico desenvolve-se no tempo para alcançar uma mudança interior.
Narcisismo e Estados-Limite, Jean Bergeret e Wilfrid Reid






















Trabalho de Carla Gonçalves

Levinas, em A Utopia do Humano, descreve como o homem se vê entregue à influência do ser, ao seu anonimato tenebroso que faz desaparecer todas as formas e que, em breve, submerge. Ao terror de sentir a despersonalização que se lhe segue, chama ele de experiência do há. Esta reflexão faz eco, em primeiro lugar, das recordações da infância: «Dorme-se sozinho, os adultos continuam a vida; a criança sente o silêncio do seu quarto como sussurante. Ela está acordada? Nesse silêncio e nessa solidão nocturnos, só permanecem, com efeito, o peso do ser e a monotonia absurda do tempo, incapazes de dar sentido à identidade.»

Levinas in A Utopia do Humano
(...)Só as palavras rompem o silêncio, tudo o resto se calou. Se eu me calasse nunca mais ouviria nada. Mas se eu me calasse os outros ruídos começariam, aqueles aos quais as palavras me tornaram surdos, ou que cessaram realmente. (...)
Samuel Beckett, Textos Para Nada, Publicações Dom Quixote, 1970
«A arte é a apoteose da solidão»
Samuel Beckett

sábado, 9 de maio de 2009


Lembrar-te, é amar os corpos que partilhamos. O que me atrai em ti pertence à sabedoria do texto, à primeira palavra murmurada. O que me atrai no amor é a indeterminação, o impulso inicial. Os rostos que amei na tua ausência foram tocados por ti através da minha pele. Ninguém pode esclarecer a sua alma à margem deste pacto. O nosso amor desfaz o trio.
É na treva que sou obrigada a reconhecer o que escrevo. Sucumbo a uma grave abstracção de pensamento donde chego a sair tocada pela invocação da palavra.
Isabel de Sá, oitavo livro, Escrevo Para Desistir, 1986, integrado em Repetir o Poema, Quasi Edições, 2005
NESSE TEMPO
Usar a liberdade de tudo dizer é ainda evocar a dúvida. O mundo não suporta a extrema delicadeza da fala poética. Mas o instinto gastou o nosso rosto, arrastou-nos para o mal. Nesse tempo, nesse tempo em que fomos amantes, a luz doirada do abismo fez-me cair na tentação. Não esqueço o teu olhar, a treva do teu corpo mergulhado na penumbra.
Ao enfrentar a experiência daquele que se arruína meu espírito dissolve-se na contradição. A matéria do texto é carnal e, enquanto estou só, sou alguém que está comigo.
Isabel de Sá, nono livro, O Duplo Dividido, 1989, integrado em Repetir o Poema, Quasi Edições, 2005
Ao destruir cada página multiplico dentro de mim as outras vozes. Fico consciente da sua existência e pergunto-me se valeu a pena. O sacrifício, noites de insónia, também a felicidade, reunidos em folhas num labor amante. "Escrevo, talvez, para manter a nascente aberta", diz-nos o poeta em cuja obra a palavra é pedra viva.
Entro na organização do dia pela sílaba clara e leve, busco na escuridão do livro o pensamento daqueles que erraram por caminhos semelhantes.
Isabel de Sá, oitavo livro, Escrevo para Desistir, 1986, integrado em Repetir o Poema, Quasi Edições, 2005

SIMONE e ZÉLIA DUNCAN - Não Vá Ainda

SIMONE - Fica Comigo esta noite

ANGELA RÔ RÔ - Só Nos resta Viver

Adelino Moreira
o compositor da boémia

Quando ouvimos Maria Bethânia a cantar Negue, ou Simone a pedir Fica Comigo Esta Noite, estamos longe de pensar que as letras destas canções de sucesso foram escritas por um homem nascido em Gondomar, que o Brasil homenageia como compositor romântico: Adelino Moreira, um português esquecido.

terça-feira, 5 de maio de 2009


COMO ENGORDAR O PERU

A QUEIMA, a CERVEJOLA e a DECREPITUDE ANTECIPADA

Jovens manietados pelas Universidades/Cerveja e a rica mais valia do Estado, sem perceberem que assim DROGADOS ficam amorfos, incapazes de saberem para que lado vão, qual o caminho, o objectivo. Enfim, o rumo de vida.
TÊM TUDO, os pais dão. A farda, os cigarritos, o cartão, etc. O AFECTO anda à deriva: os mancebos vestem a farda, ficam elegantes e casadoiros, as raparigas também fardadas, procuram os noivos, desesperadamente...
É IMPRESSIONANTE o pretenso desejo de título "DR." à mistura com a garrafa de vinho, digamos, apanágio de uma classe desfavorecida, que tudo festeja com vinho. O Clube deles ganha e embebedam-se pela vitória, o Clube perde e embebedam-se pela derrota. Portanto, essa da vinhaça, do tintol, é originária do nosso Portugal mais pobre.
É um assunto muito sério: esta juventude embrutecida a trabalhar para a cirrose.

domingo, 3 de maio de 2009

CINEMA ACTION CINEMA


"porque sem beleza não se aguenta estar vivo"

Isabel de Sá, Esquizo Frenia, &etc, Lisboa, 1979

JOANA FIGUEIREDO - A REALIZADORA

APAIXONOU-SE PELO CINEMA AOS 15 ANOS E PROMETE SER-LHE FIEL ATÉ AO FIM DA VIDA. PRESTES A REALIZAR UM FILME SOBRE FADO, ACREDITA QUE QUEM VIVE SEM ARTE PASSA FOME
DIZ QUE PRECISA DE BELEZA de beleza. Precisa de sentir e ver a beleza à sua volta. Quer dá-la a toda a gente. Partilhar essa alegria que encontra na beleza. O cinema foi o meio que escolheu para o fazer. Decidiu-o há 16 anos, no auge da adolescência. Depois, a consciência do caminho concedeu-lhe o dom da contemplação. Chama-se Maria Joana Figueiredo, tem 31 anos, e, enquanto espera poder realizar a sua primeira longa-metragem, trabalha como assistente de montagem, faz vídeos e documentários, e canta o fado. (...)
A poesia. Filmar a poesia. Filmar a palavra. É isso que quer. Unir as fantasias de infancia às convicções de adulta.(...) Em casa, ainda muito miúda, recorda as explicações da mãe ao irmão mais velho sobre os filmes de Fellini, Antonioni e Bunuel. Com 15 anos foi à procura do cinema português e descobriu Fernando Lopes. Três anos depois, assim que entrou para a Escola de Cinema decidiu fazer videoclips de poemas. "A poesia é o que existe de mais parecido com a construção de um filme, a montagem, a realização. Em cada poema há pedacinhos de vida e de emoções", diz.
Di-lo depois de se ter extasiado com o cinema de Godard. Depois de ter vivido um ano de Erasmus em Munique e de ter feito "Ah, não ser eu, toda a gente e toda a parte", 0 documentário que lhe valeu em 2001 o Prémio Jovens Criadores. Depois de ter estagiado como assistente de montagem com Teresa Villaverde e trabalhado com película. Depois de ouvir e entrar no universo de Cesariny durante os cinco meses em que montou o documentário que a RTP dedicou ao poeta. Depois de ter frequentado o curso de Escrita para Argumento da Fundação Gulbenkian. Depois de ter encontrado a palavra cantada, o modo como define o fado a que se dedica como amadora quase noite sim, noite sim, na sua vizinha Alfama. Depois de ter a certeza do que quer fazer.
"Vou filmar o fado", afirma. Não importa o tempo que isso demore. É que foi com o fado que descobriu o ritmo, a sua maneira de dizer, a sua forma de sentir. (...) "A única coisa que me assusta é que a cultura possa não fazer parte da vida das pessoas. É ela que nos ensina a ver os outros. É como um alimento. É tão necessária como comer todos os dias", argumenta, defendendo o cinema como a arte perfeita. "A vida não é plana. Tem camadas. Tem volume. Quantos níveis de leitura tem cada filme?
Texto de Alexandra Carita, actual, Expresso, Abril 2009.

sábado, 2 de maio de 2009

NÃO MUITA VEZ

Não muita vez nos vemos, mas, se poucos
amigos há para falar
dos quais me sirvo de relâmpagos, de todos
é ele o que melhor vai com a minha fome.

Os dedos com que me tocou
persistem sob a pele, onde a memória os move.
Tacteiam, impolutos. Tantas vezes
o suor os traz consigo da memória, que não tenho
na pele poro através
do qual eles não procurem
sair quando transpiro. A pele é o espelho da memória.

Luís Miguel Nava

sexta-feira, 1 de maio de 2009

AMI -Exposição Arte urbana - Muppies 176 x 120cm - Maio 2009

Este trabalho será exposto num muppie (painel existente nas paragens de autocarro). Intervenção Urbana da Ami e cuja selecção de artistas foi orientada pela critica de arte Laura Castro. Pedro Cabrita Reis, Souto Moura, Pedro Olaio, Isabel Carvalho, João Baeta, Graça Martins, entre outros. O trabalho aqui representado será exposto na baixa do Porto durante o mês de Maio. Serão depois leiloados a favor da AMI.


O QUE É UM ROSTO?
«O que é um rosto? O rosto, enquanto único, físico, maleável e público, é o primeiro símbolo do Eu. É único, porque não há dois rostos iguais, e é no rosto que nós reconhecemos o outro, e nos identificamos a nós próprios.»
Anthony Synnott in The Body Social. Symbolism, Self and Society, 1993, p. 73